sábado, 10 de setembro de 2011

Calçados para o emprego... não explicam...



Um texto corrosivo inserido no Blogue Delito de Opinião, que responde certeiramente à notícia difundida pela nossa comunicação social, de industriais do norte, no sector do calçado, que estão angustiados pela “falta” de interessados que “queiram” trabalhar…escravos mal-agradecidos…é fartar!

O horror, a tragédia, a malandragem. No Jornal de Negócios dá-se hoje (sexta-feira) voz à angústia sem fim que devasta o sector do calçado. Os empresários do ramo precisam de mais 1500 pessoas, mas não há em Portugal 1500 pessoas que queiram trabalhar. Entre gritos lancinantes de impotência e desânimo, os nossos criadores de empregos confessam que já tentaram tudo, excepto aumentar salários — porque os salários baixos, evidentemente, não explicam a situação.

Claro.

O que explica a situação é o sol e a praia, a ausência de valores, o colapso das famílias, o tabagismo e o consumo de psicotrópicos, o declínio da fé verdadeira, o aborto livre e a natural propensão para a indolência do barrasco lusitano.

Tudo excepto os salários baixos.

Quatrocentos e oitenta euros por mês, em Santo Tirso, dão lindamente para alugar um T4 e pôr os filhos no colégio. Ao fim de semana joga-se golfe em Arcozelo ou dá-se um saltinho ao Bull & Bear.

Os salários não explicam, portanto. As leis da oferta e da procura funcionam em todo o lado mas são miraculosamente suspensas acima de Valongo, nas fábricas de calçado português. As empresas do mundo inteiro atraem funcionários com salários e regalias, excepto na Chancela & Teresinha, na Natália Lda ou na Tavares & Irmãos. Aí podem lançar à rua libras de ouro ou maços de dinheiro que não aparece ninguém.

Esta situação chocante justifica que o Governo tome uma atitude firme para persuadir os nossos compatriotas a trabalharem um pouco mais. Talvez, enfim, com a subida do IVA, um aumento do preço dos transportes ou o fim das comparticipações nos medicamentos.

Já foi feito? Então mandem a polícia.”

Sem comentários: