sexta-feira, 2 de setembro de 2011

37.000 professores contratados no olho da rua



Mais de 37 mil professores contratados não conseguiram lugar no concurso de colocação de docentes para o próximo ano lectivo. Terão concorrido mais de 50 mil. E assim este governo mostra o que pretende, descapitalizar mais o ensino, aumenta o desemprego nos professores, ao mesmo tempo que precariza a sua profissão.

Esta medida é consentânea com uma outra, o encerramento sistemático de escolas do 1º.ciclo, o aumento de números de alunos por turmas, tudo um pouco para que o saber neste país continue nas ruas da amargura…é um fartar!

Postamos um texto amargurado (blogue Cachimbo de Magritte), elucidativo deste desperdiço intencionado deste governo reaccionário, em continuação da política do anterior governo, não esquecer.



“31 de Agosto - Dia do Desperdício

Começo por pedir desculpa por não alinhar com a unânime alacridade que por aí vai, por aparecer como um desmancha-prazeres. É condenável, é verdade, que, num dia em que tanta gente bem-intencionada e esforçada encontra, finalmente, motivo para um sorriso na sua triste vida, assome a feia cabeça de uma criatura sem nome, que, incapaz de tomar parte no banquete, teime em não ir embora, como diria o Erasmo. Hoje foi o dia em que 37 000 professores ficaram do lado de fora da Escola. Trinta e sete mil. É um desperdício dificilmente concebível.

Só criaturas que padeçam de imaturidade moral e de miséria mental se podem contentar com a hecatombe. São entusiasmos misólogos. Dessa numerosa e tão vocal gente não se pode, sequer, dizer que estão mentalmente apetrechados com escombros culturais - nem isso, porque mesmo esses escombros são, ainda, vestígios de qualquer coisa que passou por "cultura". Não. Essa malta orneia por desertos infra-humanos. Vive em mundos onde o sol nunca se põe - nunca viram, portanto, a noite como promessa de revelação -, nem nunca nasce - desconhecem, também, a luz, que dá a ver as coisas.

A partir de hoje, milhares e milhares de horas possíveis de contemplação reveladora de uma obra de arte, de leituras iluminantes de tantos poemas, de pasmos inesperados perante textos literários até aí ignorados e desprezados, de adestramento na plasticidade da língua, nas Wendungen de Hofmannsthal, da transfiguração do presente depois do conhecimento do passado, de cálculos agora descobertos e já não inacessíveis, de relações espaciais ainda ontem insuspeitas, de soletrações pausadas da tabela periódica que se descobrem como uma decifragem da realidade, da junção infantil das primeiras letras, que nos afasta de todas as outras espécies, tudo, tudo isso foi posto no caixote do lixo. Parabéns.”


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