segunda-feira, 14 de março de 2011

Texto publicado por Manuel Aires e que aqui reproduzimos com a sua autorização

Então, façamos a revolução

A pobreza envergonhada atinge mais de 2 milhões de pessoas, os 700 000 desempregados engrossaram substancialmente as fileiras dos marginalizados que vivem na Rua, num espectáculo indecoroso que as televisões nos mostram quotidianamente.
As quatro mortes simultâneas de idosos num lar clandestino na Charneca da Caparica, revela bem como funciona a Segurança Social no País, que sabendo que tal lar estava ilegal e a quem já lhe tinha sido aplicado uma coima de cerca de seis mil euros, sem cumprimento, mostra até que ponto centenas de outros lares a funcionar nestas condições e muito piores não se tendo noção das barbaridades cometidas. No entanto, outros grupos de cidadãos bem organizados em Associações de Solidariedade Social sem fins lucrativos e com o propósito de actuar legal e voluntariamente, apresentando projectos exequíveis e com reconhecimento de IPSS, não são acarinhadas e até se procura dificultar a vida ao máximo. Esta politica social está completamente errada quando o Estado chamou a si actividades que pertencem ao sector privado e cooperativo como são os ATL
´S, as Creches, os Lares da Terceira Idade, os Centros de Dia, os Cuidados Paliativos, o Ensino privado e particular coexistindo com o Ensino Oficial, universal e gratuito, exclusivamente na dependência do Ministério da Educação e não na posse e gestão das Câmaras Municipais que para tal não estão vocacionadas e cometem erros e injustiças clamorosas com discriminações absurdas.
Ao desviar estas actividades da esfera privada e cooperativa o Estado, eliminou centenas de milhares de empregos, deixou de receber os descontos para a Segurança Social destes milhares de desempregados e ainda suporta os subsídios de desemprego. Ao Estado, num sistema capitalista puro e duro como é aquele em que vivemos com uma falsa capa de democracia e gerido por um Governo dito socialista mas que pratica o liberalismo mais grosseiro defendendo os grandes interesses da ganância económica e financeira especulativa, entrou em falência técnica ao abandonar todos os compromissos que aceitou, querendo manter a fachada socialista resvala na total contradição com os objectivos atingidos. O slogan da Escola Publica deve ser na realidade, um designo nacional e nenhuma criança por mais pobre que seja tem de ter direito ao ensino, educação, conforto, bem estar e plena cidadania até atingir os mais altos graus da realização pessoal que as suas qualidades o permitam. Isto não invalida que actividades afins sejam praticadas e exercidas pela sociedade civil na sua plenitude sem que vivam à pala dos dinheiros públicos, como as falsas Fundações onde se escondem os boys num negócio completamente mafioso com encenação de benemerência, manipuladores da opinião publica e enriquecimento sem causa destes farsantes.
O Estado deve tratar todos por igual e a sua função tem de ser de coordenação, regulação e fiscalização das actividades económicas e sociais, não facilitando as máfias organizadas em pseudo Fundações pagas pela Segurança Social que corta o abono de família aos mais necessitados e atribui chorudos subsídios, para que os seus Presidentes e corpos directivos possam ir ver o Sporting jogar à bola na Rússia, com os dinheiros das Instituições que dirigem, relegando e dificultando pequenas e médias empresas de gente dinâmica séria e honesta, assim como Associações de cidadãos anónimos puros e animados das melhores intenções de bem fazer ao seu semelhante. Depois de nos últimos 20 anos de regabofe na distribuição de biliões de euros vindos da União Europeia, pela restrita classe politica multipartidária representada na Assembleia da Republica, para os mais diversos empreendimentos sociais, está à vista de todos como foi extinta a classe média, a pobreza envergonhada atinge mais de 2 milhões de pessoas, os 700 000 desempregados engrossaram substancialmente as fileiras dos marginalizados que vivem na Rua, num espectáculo indecoroso que as televisões nos mostram quotidianamente com a sopa dos pobres a rebentar pelas costuras, enquanto os privilégiados políticos esgotam os milhões de euros nos levantamentos multibanco como nunca se verificou, mesmo em tempo das chamadas vacas gordas onde a miséria estava mais escondida, devido ao desemprego não atingir as cifras actuais apesar de o trabalho ser sempre mal pago por Empresários criminosos que reduzem os trabalhadores a escravos como denunciou o Bispo de Beja, D. Vitalino Dantas em recente comunicação aos órgãos de informação do País.
Estamos a celebrar mais um Natal com a hipocrisia do costume, só que neste ano de graça de 2010, a conversa pia mais fino porque os portugueses já começam a sentir na pele que a entrada na CEE em 1986, foi um logro, que os subsequentes tratados terminando no de Lisboa foram uma mistificação que só serviram para enriquecer os grandes, que a União Europeia é uma panaceia, que a moeda única é uma mentira não é moeda porque a paridade é de um marco um euro, e para os portugueses um euro são 200,482 escudos, estamos a pagar aos alemães, franceses e restantes parceiros unionistas a convertibilidade do euro arcando com contribuições supra numerárias muito acima do esforço suportável e sem contrapartidas, pois ficámos sem agricultura, sem pescas, sem minas, nem minérios, sem industria naval, sem industria pesada siderúrgica, sem marinha mercante, sem mercados e quotas reduzidas para as poucas actividades económicas sobrantes de dimensão artesanal, enfim, caímos num buraco negro de onde não há saída a continuarmos na União Europeia, como ela sempre funcionou, servindo os únicos interesses dum capitalismo selvagem que não é passível de reconversão. Este foi um péssimo ano, mas 2011 todos os gurus nos dizem que será pior, então façamos a revolução porque já nada temos a perder e ao que parece nem as barras de ouro que estão hipotecadas servirão para nos devolver a honra, a alegria e a dignidade de viver.
Manuel Aires

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