segunda-feira, 28 de março de 2011

Ensaio sobre o que se pensa incorrigível


Na fragilidade somos ainda mais vulneráveis. Fragilizam-nos para nos convencerem de que não somos nada. Usam a nossa vulnerabilidade para nos fragilizarem, quando os valores da democracia, mesmo a burguesa, teoricamente sustentam o contrário. Nos processos degenerativos da democracia conduzidos pela mentira e proveito de uma classe sobre as outras, os custos e as culpas são estupidamente democratizados. Prega-se o medo e não a análise para recuperar a iniciativa. Na luta de contrários entre o capital e o trabalho, no nosso país só conhecemos a vitória do primeiro. De democracia produziram muito pouco. O que se faz em política na democracia burguesa, afinal são jogos…

Com a precipitação dos acontecimentos, Cavaco Silva, antes de outros passos institucionais e comprovando a exclusiva preocupação estratégica de cinco anos para a sua reeleição, quis saber a real situação financeira do país e chamou o governador do Banco de Portugal. Logo, o presidente economista tem desconfianças mas não conhece a situação exacta. Pelos vistos, conhecem melhor as instâncias europeias e as agências de rating…

O anterior governador passou uma vida tranquila, não foi chamado a prestar contas… e o melhor, na hora das verdades sobre os rebentamentos, foi oferecer-lhe um prémio europeu de uma vida descansada.

O povo português, tratado como estúpido e que aparentemente não tem fuga, nem conhece o rombo. Só lhe dizem que tem de pagar. Sócrates e o seu Governo demissionário sabem-no há muito mas só se preocuparam com as correcções pelo lado das receitas. Trabalharam quatro, mais dois anos contra o deficit, um Adamastor construído, e as suas propostas foram sempre continuando insuficientes. E porquê? Porque o buraco tinha outros buracos escondidos.

Segundo o Banco de Portugal, o Estado tem uma dívida pública superior a 82% do PIB e muitos analistas afirmam-na superior, ultrapassando assustadoramente muito mais do valor de um ano de rendimentos brutos do país.

A julgar pelos resultados colaterais da demissão do Governo e os vários truques da contabilidade do Estado (que sobrevive à passagem de poderes governativos), a verdade oficial deverá ser uma mentira. Para o atestar, ficam as análises do Eurostat e o conhecimento das instituições europeias que em Portugal não embaraça.

Muito dinheiro mal gasto em milhares de milhões, espalhados por autarquias e as suas empresas municipais, em conjunto com o sector empresarial do Estado e o descontrolado rol de institutos e organismos para o emprego das clientelas, continuam sem peso contabilístico. E, de uma maneira geral, a Banca que delapidou as poupanças dos portugueses, também precisa de urgente socorro, o qual foi prometido pelo Governo de saída.

Num PIB de 176 mil milhões de euros em 2010, o que se sabe é que devemos muito mais! E os votos da população foram para legitimar esta situação.

Com a queda do Governo, os mercados dos nossos credores (que só por ingenuidade é que se afirma que não têm identidade), insistiram no aumento do roubo. Se já tinham alimentado os nossos políticos para o sobre endividamento, com o proveito de um permanente bando de empresários e serviços que não dispensam as negociatas, agora levam-nos a comprar dinheiro para pagar apenas despesas correntes do Estado a preços proibitivos.

A situação é insustentável e a base de pagamento é sempre a mesma. Os economistas da nossa praça nunca tiveram coragem de o denunciar. Alguns deles, vão avisando que os custos actuais se podem estender para lá de uma dúzia de anos, o que significa que os jovens à rasca estão barbaramente condenados nas suas aspirações. Os que têm trabalho, se não reagirem, terão de vender a mão-de-obra barata no desassossego do Código de Trabalho, que lhes retira voz e direitos. Tudo à sombra de um movimento sindical que quis… ser controlado.

Com os desenvolvimentos do arrepio português, a vizinha Espanha que nos vinha anexando com investimentos avultados e uma cobrança de dívida que ultrapassa os 90 mil milhões, fica com a caixa da tesouraria exposta aos ataques da voracidade dos especuladores.

O que não foi respondido até hoje, é como se permite tanto dinheiro nas mãos dos especuladores. Estamos a falar da qualidade da política. A acumulação advém dos dinheiros roubados às economias reais dos países que fogem aos impostos pelos agentes conhecidos, em vez de serem um factor de criação de riqueza nacional. Reproduzem-se a partir de paraísos protegidos, são um factor de desequilíbrios e ingerências e até aqui falaram mais alto.

Se um pequeno país, pobre e periférico, deve mais de 100% do seu PIB, imaginemos os números astronómicos de todas as economias endividadas.

Um sistema injusto de actividade política e económica produziu estes resultados. E Portugal não foi excepção. Tem de voltar a fazer o seu encontro com a História e mudar de políticas.

O que está no horizonte não nos serve! Vivemos uma oportunidade de desmontar a democracia de embuste e fazer escolhas. Por trás do abuso da nossa vulnerabilidade, está uma grande força.

Luis Alexandre

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