sábado, 12 de março de 2011

A posse e o que interessa aos valores que o elegeram


Na pose hirta e fria a que nos habituou, o Sr. Silva tomou posse do mais alto cargo da Nação. Eleito e reeleito por um eleitorado conservador e de direita, repastelou-se no cargo e usou-o para passear a sua inoperância nos últimos cinco anos em que o país ainda mais se afundou.

No discurso de quarta-feira e livre do espartilho da reeleição, tratou de por ordem nalgumas cabeças pensantes, distribuindo avisos ao Governo e ao seu próprio partido, de que, como representante do grande capital e pelas suas convicções e serviço de direita, quer ver implementadas todas as medidas necessárias à recuperação da velha ordem económica ameaçada.

Sem necessitar de recorrer à ameaça da única prerrogativa do cargo, o poder de dissolver o Parlamento, Cavaco Silva, conhecendo a gravidade da situação financeira do país e na sua lucidez de último refúgio de garantias para os agentes do capitalismo liberal, dá prioridade à execução das políticas já definidas e das que se venham a definir pelas congregações do PS e do PSD, como quer que o Governo faça o seu trabalho e se construa o maior consenso político à volta destas.

Ao defender um plano de médio prazo com consenso político e social que ele supervisionará e que nunca se estenderá neste quadro para além do exercício do seu poder, o que o presidente pretende é a execução dos PEC, das novas medidas já aprovadas pelo Conselho Europeu e as que a situação impuser.

Cavaco Silva de peito cheio ao seu gosto de predestinado, colocou-se acima de tudo e de todos e não escondeu o que pretende. Até sentiu autoridade para apelar aos jovens que mostrem o seu descontentamento (contra quem, se aprovou todas as leis contra eles?) mas colaborem na sua versão de recuperação do país. Numa aparente descida à terra, até não deixou de apelar “ao sobressalto cívico”, que deverá ser manter juntamente com ele o controlo da acção do Governo e no momento oportuno ter o apoio para a sua demissão, debaixo da ideia de que as medidas anti-populares e o cortejo de consequências negativas, são o caminho para o futuro do país.

Depois deste acto solene, tivemos na quinta-feira outro que protagoniza o BE e a sua estratégia de existência: votar uma moção de censura ao Governo que sabem estar condenada ao insucesso. A questão não está na inevitável recusa parlamentar e nas razões filosóficas que lhe dão sustento, de puxar as orelhas aos companheiros “socialistas” que não os ouvem e insistem em políticas de direita, mas no aval dado ao Governo, em tempo limitado, pelo presidente. E é a estratégia deste e a dos interesses que representa que vai conduzir o país, se o povo português não perceber a armadilha que lhe montaram.

O BE precisa de dar vida ao PS que na oposição quererá o espaço perdido. O BE, que foi construído para um papel histórico transitório (o qual já levou a cabo noutras ocasiões e com outras designações políticas), armazenou o descontentamento popular sobre as governações do PS e procura convencer as forças revolucionárias da sociedade, as mesmas que perceberão no futuro o seu papel de travão de contestação frontal às políticas anti-populares do governo, que as soluções estão no debate parlamentar que lhes dá vida.

As teorias de Cavaco Silva sobre o “sobressalto cívico”, em nada diferem das políticas moralistas e paralisantes da moção de censura do BE. Ambas contribuem para a vigilância do Governo PS e mantê-lo no cumprimento de aplicar os PEC e as ordens dos credores internacionais que mandam cá dentro.

As movimentações sociais em curso, contrariando estas conjugações, dirão que o que o país precisa é de um assalto cívico na direcção de políticas democráticas e populares.

Luis Alexandre

1 comentário:

Anónimo disse...

Moss Luis Alexandre, teste mais pequenos.

O Cavaco Silva é do Concelho de Loulé, portanto não é flor que se cheire.

Filho de Albufeira