terça-feira, 9 de agosto de 2011

As revoltas não têm fronteiras


Do Norte de África, onde as autocracias viviam felizes com os apoios externos e os dinheiros salvaguardados nos Bancos europeus, as revoltas populares, que só aparentemente não têm conexão, assaltam agora dois países – Israel e Inglaterra -, que os julgamentos comuns atribuíam como sólidos politicamente e poços de democracia para dar... e vender…

Curiosamente, tal como havia um traço comum entre os países do Norte de África e Médio Oriente em volta da miséria generalizada entre os povos, também existe um traço comum entre Israel e a Inglaterra, como obreiros de guerras de usurpação dos direitos de outros povos e assentes em interesses expansionistas de apropriação.

As revoltas de África têm a opressão como pano de fundo e estão largadas ao abandono porque dali não há nada para tirar, as de Israel querem fazer supor que se confinam ao aumento generalizado dos bens de consumo como se não houvesse contradições sobre as relações com o povo palestiniano e, em Inglaterra, em contraponto com o rancor, com a vergonha oficial e as ameaças aos “criminosos”, surgem a marginalização, a humilhação e o desemprego entre as camadas pobres de emigrantes, empurrados para os guetos suburbanos das cidades inglesas.

Os relatos de alguma imprensa internacional, incluindo a portuguesa, saem à rua para ajuizar em linha com o Governo inglês, evidenciando o carácter criminoso da violência gratuita dirigida por “gangs”, não havendo lugar para o descontentamento e o desespero em que milhares de famílias são obrigadas a viver em absoluta falta de condições mínimas.

A pátria das diferenças ficou chocada com a expressão da revolta no seu território, uma espécie de ofensa tipo assalto às Torres Gémeas, quando o seu passado histórico e recente está recheado de outros assaltos e mentiras para abocanharem as riquezas de países praticamente indefesos e apenas porque lhes são necessárias para a hegemonia imperialista.

Em linha com o resto dos parceiros europeus, os emigrantes e outras camadas baixas da população, quando o sistema capitalista entra em colapso e não investe na reprodução de riqueza, são empurradas para a inutilidade e o empobrecimento como se fossem responsáveis pelas situações geradas.

Perante a actual crise que rebentou na Inglaterra e em nada é diferente de outros ambientes nos países da Comunidade Europeia, onde os factores de grave crise do sistema são igualmente evidentes, o Governo inglês fugiu às suas responsabilidades e exibe o lado mais cruel da xenofobia, ao procurar confundir meia dúzia de arruaceiros com os milhares de manifestantes descontentes com a falta de oportunidades e de participarem na vida do país que os acolheu.

A Inglaterra e de igual modo Israel, dois países cujos Governos surpreendem por terem conseguido esconder as dificuldades financeiras que atravessam por ordem das aventuras de guerra, empurram para as costas dos povos as suas incapacidades nas respostas às dificuldades globais das suas economias.

As revoltas provocam as más políticas que dominam a Europa e o mundo, mas representam uma larga esperança nas transformações sociais porque trazem as populações para a rua, em busca de outras soluções.

O mundo está em mudança e as populações têm a sua palavra…

Luis Alexandre

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