segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A água, os lixos e o fogo orçamental






O populismo que sempre caracterizou as governações do concelho de Albufeira, assente na cultura do betão e no atropelo da harmonia dos espaços que geravam receitas, entrou em profunda recessão.

Com os dinheiros das obras a jorrarem, num jogo que se revelava ilusório e perigoso, os orçamentos camarários desperdiçaram recursos e geraram expectativas que a presente crise reduz a enormes dificuldades, desnudando o aventureirismo e o oportunismo político-partidário ao serviço de clientelas que pressionam o imediatismo do lucro e descartam as consequências.

Com a exploração dos solos levada ao extremo, a procura assente no dinheiro fácil como negócio da Banca, envolvida na cumplicidade das autoridades locais, gerou-se uma situação de escalada do movimento inflacionista que trespassou todas as actividades económicas, do imobiliário ao custo de um alojamento e de uma refeição.

No actual contexto de crise a cumplicidade deixa as suas marcas, com os cofres camarários sem receitas para os encargos contraídos, o mesmo se passando na economia privada, com custos de vária ordem e superiores às receitas.

Como o modelo de Sol e Praia continua superior às novas dimensões do interesse turístico que aproveita a democratização do transporte aéreo, o Algarve vê reduzido o seu período de funcionamento.

Na realidade, o pensamento oficial e estruturado continua a correr atrasado em relação às transformações dos mercados, a fraca publicidade e os eventos incidem sobre a procura de Verão, ficando o nosso micro-clima, a nossa História e riqueza gastronómica fora do conhecimento e do interesse de largos mercados que se vêm construindo há vários anos.

A actual crise apenas evidenciou uma década de degenerescência turística e de cegueira oficial e, aos factores negativos, acresce a falta de liquidez de largas camadas de viajantes.

Albufeira, como concelho de mais larga oferta turística e sem outros meios de subsistência, está, por todas as ordens de razões, no centro dos novos problemas. A considerável redução de receitas a par dos custos contraídos com novos equipamentos despesistas, excessivos para a dimensão do concelho e que só geram mais despesa corrente, criaram rupturas financeiras que levam ao colapso do cumprimento de responsabilidades.

Depois de assumida uma dívida colossal às “Águas do Algarve”, sob o oportunismo desculpabilizante de dívidas astronómicas, atrasadas e protegidas de vários grupos hoteleiros, o executivo PSD acaba de admitir em público mais uma, entre outras de menor dimensão, à empresa que manuseia os lixos e que parece estar a operar em greve de zelo e com prejuízo da imagem da cidade.

O problema da falta de liquidez proveniente dos excessos de gestão, não só inviabiliza novos projectos, alguns deles ainda do ciclo da megalomania, como coloca um novo estilo operativo de procura de receitas que depois de aumentos brutais sobre taxas em período de claro abrandamento económico, abre o dossier das ameaças e das execuções sobre um tecido económico a braços com a sazonalidade cada vez maior e a forte quebra de procura e poder de compra dos visitantes.

No passado recente o executivo laranja não foi capaz de ler os factores de crise, não se preparou como prova o orçamento, ao longo dos anos contribuiu decisivamente para a especulação que rodeia o destino, não reconhece a profundidade dos problemas sociais e económicos para os quais apenas contribui com sopa e trocados e na agonia das receitas, parece só conhecer a litigância e a espera de socorro do Governo central.

As ilusões das vacas gordas vão-se abater sobre os munícipes…

Luis Alexandre

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