sábado, 3 de janeiro de 2009

A POLÍTICA É COMO OS ANOS BISSEXTOS

Subitamente, em ano de todas as eleições, assistimos com uma intensidade crescente - salvo honrosas excepções - ao apregoar aos sete ventos das inaugurações deste ano e às maravilhas que, como um passe de mágica, vão aparecer nas próximas governações, sejam elas a nível nacional ou, o que nos interessa mais aqui, a nível regional e local. É assim, de quatro em quatro anos, a política tem destas excentricidades e a nós, cidadãos, cabe-nos manter a lucidez e tentar perceber o que se passa para que não caiamos facilmente em esparrelas que nos tem levado a situações cada vez mais calamitosas.

A democracia é o pior dos sistemas, à excepção de todos os outros, já dizia ironicamente o Winston Churchill. E qual dos maiores defeitos da democracia? É ter enveredado quase que exclusivamente pelo caminho da democracia representativa, em que alegremente escolhemos de quatro em quatro anos os nossos representantes. E é de quatro em quatro anos que a maioria dos políticos – salvo honrosas excepções – se lembram da sua base de apoio e vão cumprir o ritual da multiplicação dos votos para garantir outro mandato. Aí saem à rua e às feiras, bacalhaus e beijos para todos, sorrisos até doerem os lábios, toneladas de festas, música e animação, palavras de optimismo sem limites, fanfarras e abraços, promessas deste mundo e do outro, tudo nos holofotes dos meios de comunicação, não se esqueçam é da cruzinha! As eleições acontecem e aí, rapidamente, a peça acaba, o palco é desmontado, cada um para seu lado, volta a distância aos eleitores, a frieza da relação, o silêncio da falta de diálogo, a ausência de participação, as promessas esfumam-se pelas frestas dos gabinetes e a populaça se quer saber como estão as modas, perde o ânimo e a paciência nos muitos Passos Perdidos que se reproduzem por esse país fora. Como se a política fosse como os anos bissextos, uma peça de teatro que só vai à cena de quatro em quatro anos…

A partir daí são as máquinas partidárias a estabelecerem e a imporem as suas regras, de representantes dos cidadãos em geral passam a ser só representantes dos seus interesses e das suas gentes, quem tem o cartão tem tudo, quem não tem o cartão não tem nada, competências, formação, experiência, valores, atitudes não são para aqui chamados. E, salvo honrosas excepções, quanto maior for a maioria, maiores são as facilidades, então se for absoluta, pois bem, ficam criadas as condições naturais para o absolutismo, ou seja, à conta da governabilidade lá ficamos a ver a democracia por um canudo…

Esta partidocracia em que os partidos levam o seu papel ao exagero e reduzem a cidadania aos seus valores residuais, é um cancro para a sociedade e que a tem levado progressivamente para uma situação desastrosa e terminal, com tendências a piorar, embora seja difícil imaginar cenário mais negro. A alternativa dos cidadãos que rejeitam este estado das coisas e que se sentem no direito mais que legítimo de participar e também fazer ouvir a sua voz independentemente da cor do cartão mágico, é fomentarem e dinamizarem uma democracia participativa em que a cidadania, pessoal ou de grupos, informal ou formal, possa ser exercida e contrabalançar a dominância excessiva e prejudicial do sistema existente. Como aqui, n’A Defesa de Faro.

É que não nos podemos esquecer que a democracia já nasceu há 2.500 anos em Atenas e que os seus ideais – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – imortalizados na Revolução Francesa de 1789, devem ter em Portugal, finalmente, condições para respirar…

Alfredo Leal Franco

Adf.

4 comentários:

Anónimo disse...

Entrámos em 2009 e nos próximos meses vamos assistir ao aquecimento dos motores das ideias e dos interesses, que devem nortear as diversas candidaturas à Câmara Municipal.
O quadro em que estas eleições se vão desenrolar, por força da realidade e contráriamente às anteriores, será de grande discussão política à volta do balanço dos modelos seguidos até aqui, com o betão, o arraial e o atraso infra-estrural como suportes e o que pretendemos estratégicamente para o futuro, se nos vamos limitar ao modelo sol e praia ou, se vamos querer um Concelho turístico moderno, vivo ao longo do ano, requalificado, com qualidade de vida e cultural e históricamente afirmado.
Albufeira tem um desafio pela frente e uma batalha para travar, que não pode ser adiada, e escolher entre a continuidade da perda de vitalidade e abandono e destruição dos seus valores histórico-patrimoniais ou aceitar questionar e repensar tudo, apoiado na ampla participação da sociedade civil que tem sido desprezada sob a capa de que a maioria absoluta dá o direito de pensarem e decidirem por nós.
Todos os cidadãos são importantes, nenhum poderá ficar fora destes desafios sob pena de não interpretarmos os sinais de mudança da sociedade e de vermos o nosso Concelho entrar num caminho suicida a prazo e de continuarmos a dar cobertura ao enriquecimento abusivo de meia dúzia de massificadores em detrimento dos interesses da esmagadora maioria dos seus habitantes.
Temos uma luta para travar? Vamos travá-la!

Anónimo disse...

Bom texto, mostra muito bem como os Partidos se servem das pessoas e dos seus anseios para beneficio de camarilhas dirigentes que tramam tudo nas costas das pessoas.
Albufeira tem uma péssima experiencias com os dois Partidos que até agora dirigiram os destinos do Concelho e temos de procurar alternativas às suas mentiras, mau uso dos dinheiros dos contribuintes e promessas que estão preparando para as eleições.
Se Albufeira não acordar vai pagar caro.

Anónimo disse...

Caro Anónimo, concordo consigo, mas acordar e votar em quem?

O que deveria haver, era em vez de se votar de 4 em 4 anos, haver eleições de 6 em 6 meses, assim em vez de trabalharem só no ultimo anos, trabalhariam a tempo inteiro; tudo o que seja burocracias, seria resolvido tudo em 15 dias.
Já agora agradeço por se terem lembrado de alcatoar a estrada que passa em frente da minha casa, lembraram-se disso antes do mandato acabar.
Curioso...

Anónimo disse...

Caro Anónimo, concordo consigo, mas acordar e votar em quem?

O que deveria haver, era em vez de se votar de 4 em 4 anos, haver eleições de 6 em 6 meses, assim em vez de trabalharem só no ultimo anos, trabalhariam a tempo inteiro; tudo o que seja burocracias, seria resolvido tudo em 15 dias.
Já agora agradeço por se terem lembrado de alcatoar a estrada que passa em frente da minha casa, lembraram-se disso antes do mandato acabar.
Curioso...