sábado, 22 de outubro de 2011

E a primavera europeia?


Nos tempos que correm, o cinzentismo político da gestão europeia, que produziu o quadro negro que cobre a Europa, social, económica e financeira, não pode deixar de pôr os cidadãos a pensar entre o que nos prometeram e as contradições que a minam.

Vale a pena recuperar o velho quadro de propostas que levaram os povos a tolerar todo o conjunto de compromissos e mobilizaram as nações a acreditar e a alienar interesses estruturais e nacionais para a construção de objectivos comuns, que se revelaram ao longo dos anos serem de destruição para os países mais pobres e factores de expansão e dominação dos mais ricos e poderosos.

Na crise intestinal que a Europa atravessa, sobressai a falta de autoridade e de mecanismos que façam a tal Europa falar e agir a uma só voz e, pergunta-se, para que serviram todos os Tratados de pompa que se revelam de valor zero?

Os anos de “porreiro pá”, onde o endinheirado Sócrates deu o mote nacional, tinham escola feita na Europa, uma vez que os castelos vão caindo um a um e nem a arrogante Alemanha poderá escapar mais o seu novo Vichy de serviço.

O descalabro económico e financeiro é impossível de esconder, tem mais de dois anos após a bolha materna norte-americana, nação onde os políticos não dão conta do recado, à semelhança dos parceiros europeus que olham a sucessão de factos em desespero e se flagelam apenas em declarações impotentes.

O resultado desta incapacidade que apadrinhou a fuga e concentração dos capitais em offshores e são o epicentro da especulação financeira, foi a acelerada descapitalização das economias (Bancos, empresas e singulares) que estão a gerar desemprego, desagregação social e falências de efeito dominó, aumentando os factores de convulsão e descrédito da União e a instabilidade da moeda única, que se torna perceptível foi construída e sustentada sobre factores de desigualdade intrínsecos ao espaço europeu e favoreceu os melhores apetrechados, os mais ricos e com a decisiva maior influência política.

As instituições europeias, cimentaram de forma pouco inocente os vazios e pressupostos que propiciavam dois níveis e duas velocidades de desenvolvimento, com o Banco Central Europeu à cabeça e apoiados nos critérios de distribuição dos fundos comunitários que as nações mais poderosas foram usar em territórios conquistados para a comunidade, criando os constrangimentos que vivemos e a flagrante desigualdade entre povos e nações.

Em pouco mais de duas décadas, o trabalho de sapa de políticos e financeiros conseguiu cavar um fosso que não terá solução com quaisquer mezinhas apressadas, porque o que faz a Europa não funcionar é a permanente luta entre o capital insaciável e o trabalho explorado.

Os movimentos de indignação espalhados e a situação pré-revolucionária que se vive na Grécia, são um estado de consciência e um embrião de mudança.

Os políticos perderam a credibilidade, alguns ensaiam acusações, mas todos serviram os interesses financeiros globalizadores que montaram esta estratégia autofágica das nações, deixando-as enterradas em dívidas que objectivamente são chamadas de soberanas, para criar a ideia nos povos de que são suas e não fabricadas com o intuito da subserviência.

Com mais um Conselho Europeu em perspectiva para nada, França e Alemanha não abdicam da sua autoridade financeira de rapina, as contradições só tenderão a crescer, aumentando as desconfianças entre povos e trazendo para a compreensão dos fenómenos mais descontentes e forças de transformação.

A Europa comunitária não quer admitir o fosso de injustiças que construiu e os políticos das nações empobrecidas não estão à altura dos acontecimentos, insistindo em políticas selvagens de pagamento de dívidas injustas e fabricadas especulativamente.

A Grécia está nas ruas e a inteligência dos povos vai unir a sua luta às que inevitavelmente vamos ter de travar para criar uma nova ordem política, social e económica, ao serviço de quem tudo produz.

Luis Alexandre

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