quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ensaio sobre os caloiros





Os tempos de liberdade descobriram uma componente imberbe para os problemas da escola em particular e do país em geral.

Os caloiros, em quase tudo principiantes na vida, depois da pressão dos exames de acesso que lhes franqueia as exigências do Ensino Superior, têm à espera uma prova de regeneração, ainda por cima pública, infligida como represália pelos seus colegas avançados.

A solenidade da entrada do caloiro, elevada à humilhação, parece ter entrado nos hábitos da comunidade universitária e até das próprias famílias, que em romaria, seguem e filmam para a posteridade.

Do alto das cátedras, a resignação é comovente, excepto quando algum desviado questiona o ritual. Que chatice ter de ser questionado e intervir no processo com autoridades judiciais pelo meio. E se o queixoso ganha, repara-se a coisa… para que o essencial permaneça.

A inocência à volta das práticas sobre caloiros que há muito ultrapassam a comum racionalidade e são vendidas como de descontracção…, fazem já parte da montra da liberdade… burguesa e desprovida… que vê aqui mais uma cortina de indiferença às suas leis e propósitos de fazer do Ensino um negócio e não uma estratégia de sustentação e desenvolvimento do país pela sua qualidade.

Quando o Ensino privado cai em desgraça, por deficiências próprias de substância e de custos, quando as propinas sobem e a acção social desce e o desemprego ocupa uma larga percentagem de prémio final, abrem-se espaços às quinzenas dos caloiros a somar a outras festividades curriculares. O Estado burguês agradece a distracção e a canalização das energias. As associações, devidamente enquadradas pelos rebentos da política que vão à supra escola partidária burguesa, esmeram-se.

Ao longo do ano académico o espaço de opinião e de crítica confina-se a alguns corredores e cafés, ou até horas de rádio e folhas de papel improfícuas mas, nunca dispuseram de um dia… quanto mais de uma semana. A reflexão e o progresso são marginais, por enquanto…, no agrado das partes, uma de olho aberto e outra adormecida…

Com a sociedade em alvoroço e com o Ensino em particular a ser colocado na área do despesismo, atropelando instituições, professores, alunos, famílias e comunidades, o debate deveria ser uma prioridade… dos sectores de ponta.

Com a aproximação dos efeitos das políticas recessivas na economia e na sociedade, onde os jovens vão ver aumentada a factura do desemprego e a falta de condições de lançamento da sua autonomia, com a probabilidade do desânimo e a falta de meios financeiros ditarem milhares de abandonos, esta força jovem é alvo de uma atenção especial dos seus coletes de cerco para que não se juntem ao grosso do descontentamento da população.

Vivemos sob todos os aspectos um período histórico grave, que não traz motivos de comemoração, embora o povo português e a sua camada jovem não tenham perdido o sentido de humor e de diversão… como não podem perder a noção da responsabilidade de que não podemos deixar que o mesmo poder que nos afundou, queira impor as suas regras para as soluções…

Luis Alexandre

1 comentário:

http://medronheiro.blogs.sapo.pt/ disse...

“Somos um povo que está na merda, e que na merda ficará se nada fizermos.”
“Errar é humano. Culpar os outros, chorar, e não fazer nada, é português.”