segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O engano da bondade


 
Texto de um grande Homem e Poeta, excelente, e a complementar o texto que publicámos recentemente, “O Elefante e o mosquito!”, onde afirmamos mormente referindo à situação de relativo “empate” nesta luta entre o capital e o trabalho.

«Na opinião dos marxistas-leninistas, este “empate” deve-se, fundamentalmente aos mitos que as correntes oportunistas e revisionistas tentaram inculcar nas consciências dos operários e trabalhadores, tais como a da possibilidade da transição pacífica para o socialismo ou da instituição de uma “democracia” directa, uma “democracia” do “bom senso” e das “boas vontades”»

“Endureçamos a bondade, amigos. Ela também é bondosa, a cutilada que faz saltar a roedura e os bichos: também é bondosa a chama nas selvas incendiadas para que os arados bondosos fendam a terra.

Endureçamos a nossa bondade, amigos. Já não há pusilânime de olhos aguados e palavras brandas, já não há cretino de intenção subterrânea e gesto condescendente que não leve a bondade, por vós outorgada, como uma porta fechada a toda a penetração do nosso exame.
Reparai que necessitamos que se chamem bons aos de coração recto, e aos não flexíveis e submissos.

Reparai que a palavra se vai tornando acolhedora das mais vis cumplicidades, e confessai que a bondade das vossas palavras foi sempre - ou quase sempre - mentirosa. Alguma vez temos de deixar de mentir, porque, no fim de contas, só de nós dependemos, e mortificamo-nos constantemente a sós com a nossa falsidade, vivendo assim encerrados em nós próprios entre as paredes da nossa estulta estupidez.

Os bons serão os que mais depressa se libertarem desta mentira pavorosa e souberem dizer a sua bondade endurecida contra todo aquele que a merecer. Bondade que se move, não com alguém, mas contra alguém. Bondade que não agride nem lambe, mas que desentranha e luta porque é a própria arma da vida.

E, assim, só se chamarão bons, os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reivindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra.”

Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer

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