Portugal (ainda) é português?
Nada do que se passa no mundo e no nosso país é fruto de
acasos. O capitalismo, detentor da concentração dos meios, usa os estudos, o
rigor, a experimentação e as leis, em proveito.
A globalização, o derrubar das fronteiras, a destruição das
economias, a liberalização dos mercados, os acordos desiguais ou impostos, a
impotência das organizações supra-nacionais, o endividamento e a falência dos
países, são resultados da régua e esquadro que movem a nova era de dominação
dos imperialismos.
As crises, num mundo dividido em esferas de influência, são
o resultado de disputas cada vez mais ferozes entre potências que rejeitam os
limites. Os EUA fecharam os olhos ao subprime, enquanto fonte de rendimentos e
hegemonia e a China entrou em cena, como actor principal, baseado nas mesmas
filosofias imperialistas.
À frente de várias
potências regionais, pescadas por razões estratégicas para o grupo G20, a
China, que vinha fazendo o seu trabalho de paciência no xadrez internacional, avançou
para o uso dos largos “excedentes” à custa da exploração desenfreada do seu
povo, encetando a conquista de mercados e
compra de soberanias, através das
dívidas públicas para chegar aos sectores estratégicos.
Na Europa, que se julgava um bastião e nunca tinha vivido
uma crise tão generalizada com estas características, a Alemanha e a sua criada
de servir - a França -, apropriaram-se de uma União e do valor da sua moeda em
processo de enriquecimento dos seus sectores capitalistas, sob a magia e a
falsidade do desenvolvimento e combate às assimetrias.
Enquanto exploraram as fragilidades dos sistemas económicos
e financeiros dos parceiros por caminhos duvidosos (quantas Ferrostal),
descuraram a dimensão da exposição às teias de interesses da acumulação de
capitais que artificializaram mercados e empresas (milhões de aforradores
perderam milhares de milhões que vendem ao desbarato aos poderosos), bem como
países, que foram induzidos ao consumo e ao despesismo público para criarem as
actuais condições de falência e dependência conhecidas.
Hoje a Europa dita comunitária, quase de uma maneira geral
está ao desbarato e os predadores triunfantes lançam uma nova fase de assaltos.
Os países à beira do abismo são aconselhados a vender o que resta dos seus
sectores estruturais. Portugal é um dos elos da lista.
Se já tínhamos a porta escancarada e livre-trânsito para os
colossos europeus e mundiais, que gozaram das dádivas oficiais, dos fundos que
nos destinavam e dos dinheiros dos nossos aforradores, agora voltam com os
dividendos para comprar o que ainda temos de valioso e de garante da
independência nacional.
Nos próximos tempos e por aconselhamento, como forma
altruísta de exemplo de bons pagadores e de resgate futuro da soberania…, vamos
entregar os transportes, a energia, a água, as comunicações, a Banca, as
empresas de construção, a produção industrial, a terra e o mar, o áudio-visual,
a cultura e a língua
portuguesa e até os portugueses… que já não têm, nem poder
nem espaço no seu próprio país…
O caso do Alexandre Pingo Doce, como os próprios afirmaram,
é apenas uma adaptação aos novos tempos, porque em Portugal não há dinheiro
para o seu financiamento. Afinal fazem o que outros já fizeram e onde devemos
acrescentar os milhares de contas offshore.
E o nosso povo vai assistir a tudo sem resistir e procurar a
mudança?
Luis Alexandre
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