O baile mandado das portagens
Com as portagens no activo (não foi difícil chegar ao
objectivo), o baile mandado dos partidos parlamentares, na roleta das propostas
e fugas, parece ter sido esgotado. Os partidos “lavaram a honra” e os cidadãos
vão pagar a factura. Tudo como combinado!
Na ressaca da cobrança efectiva, recheada a sul de outras
acções de protesto, o que também continua a ser notícia é o teatro dos
ressentimentos partidários, sobre quem estava ou não com as portagens.
Uns acobertam-se na legitimação eleitoral de Junho,
insinuando que os votos dos algarvios implicitavam a concordância com as
portagens e, os outros, na repetida e condenada papelada parlamentar. Tudo na
legalidade e no interesse do Estado burguês, que ninguém ousou pôr em causa,
como se o Estado estivesse dogmaticamente acima dos interesses dos cidadãos e
não pudesse ser posto em causa. O que não falta na História, são os exemplos da
força dos cidadãos para a mudança.
E falando de cidadãos, em particular dos algarvios, estes
viveram um longo processo de preparação das portagens debaixo do slogan que
curiosamente não morreu, de que são injustas, e quando se consumou a sua
aplicação, o facto de o descontentamento assumir formas físicas noutro patamar
de protesto – o da acção revoltosa -, voltou a unir as várias frentes dos
proclamados opositores, com o seu natural repúdio.
O Estado que semeia a injustiça em nome da democracia… volta
a ser protegido, alegando todas as partes a legitimidade deste… contra a
intolerância. Aqui está uma prova de hipocrisia e negação da resistência dos
cidadãos.
O Estado e os seus agentes políticos podem liquidar a
economia e lesar os interesses gerais dos cidadãos, levando-os ao desespero, a
coberto das leis que produziram e são agitadas para os ilibar e, aos cidadãos,
julgam na arrogância do poder, que lhes resta o papel de comer e calar. Que
ilusão…
A comissão de utentes que trouxe a luta dentro de uma visão
pequeno-burguesa saloia de protestos desligados com os resultados conhecidos,
porque nunca soube ou quis ligar sectores regionais e as frentes de luta no
espaço nacional, anestesiou a luta com a inoquidade das iniciativas
parlamentares, ensaiou um enterro, perdeu uma providência, nunca assumiu e
organizou de forma clara a justificada desobediência civil, para acabar ao lado
do Governo na nova situação de condenação aos sucessivos actos de protesto
popular. Como se de bandidos se tratassem…
Como sempre afirmámos, para vencer a influência cruzada
sobre os cidadãos, onde os declarados partidos apoiantes das portagens levavam
vantagem, as soluções para a vitória da recusa passava pelo envolvimento público
dos sindicatos, das comissões de trabalhadores e outras organizações populares,
unificando a luta com as outras representações regionais.
A comissão do Algarve quer levar a efeito novas acções nos
mesmos parâmetros curtos e pouco mobilizadores, desprezando os esforços de que
jornadas de luta conjugadas a nível nacional têm outra profundidade e tiram o
sono ao Governo e seus apoiantes.
Claro que devemos continuar a lutar, mas não pelos processos
esgotados…
Luis Alexandre
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