segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A NOVIDADE DA ABSTENÇÃO CONSTRUTIVA

Classificação morfossintática:
- [abstenção] substantivo fem singular .
Sinônimos: privação renúncia desistência abdicar .

Passada a grande provação do ano de 2009 e com o esperado agravamento dos factores de crise em 2010, o regime, em crise de confiança, procura um novo fôlego e reorganiza-se em torno da oportunidade que está por detrás do Orçamento de Estado.

O embaraço político anda à volta da melhor linguagem para anunciar as medidas de contenção do deficit e quem as vai pagar, e não da questão do acordo que une os partidos e a sua inevitabilidade.

Cavaco Silva, pressentindo o perigo social e necessitado de lavagem de imagem e ânimo para a corrida presidencial, montou o seu papel de mediador, lançando o alerta aos partidos em que mais confia, porque a distracção ou a dissensão podem ser fatais.

A situação excepcional que vivemos, com dois terços do país mergulhado em problemas com base na implosão do sistema financeiro, de que nenhum político eleito está impune, requer medidas excepcionais que exigem a teatralização para esconder que os principais órgãos de poder estão unidos no essencial, no caso, à volta do OE e das linhas políticas para o desenrolar do ano.

Disseram Sócrates e seguidores, que não governariam com o programa dos adversários mas, a gravidade da situação e as suas saídas impuseram o consenso, através da habilidade da abstenção construtiva, isto é, negociada, para a salvação conjunta.

A queda do Governo era a queda da oposição e seria um exercício político de marcar passo. A oposição, que sabe não ter condições internas nem o apoio da sociedade para governar, refugia-se na esperteza de “não querer provocar uma crise política”, porque, perante eleições, pagavam o seu custo e veriam saltar uma maioria reforçada do PS.

Sócrates, que conhece as fragilidades dos adversários, enfrentou-os e resistiu a dois actos eleitorais, os que diziam respeito directo ao país e ganhou-os, mais por descrédito da oposição do que pela confiança nas suas políticas. Jogou uma vez e voltou a jogar, sabendo que os adversários não tinham fuga.

Com este acordo, mascarado de oposição construtiva, o país vai ser governado pelas políticas do sufrágio tripartido e o poder efectivo nas mãos do PS.

O presidente da República, o Governo e os partidos da ordem, numa conjugação de interesses, tentam desviar as atenções da população sobre a crise do país, centrando-as no papel do OE, como instrumento vital para a confiança dos especuladores internacionais e cura dos males nacionais.

O objectivo do acordo possível em volta do OE, é fazer passar a mensagem de que o país está à beira do abismo e precisa de tranquilidade, trabalho, sacrifícios, com perda de qualidade de vida e confiança nas instituições.

Quanto aos outros partidos do arco colegial, afastados do acordo, vão continuar a infindável tarefa de quererem apenas adocicar o sistema…

Luis Alexandre

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