quinta-feira, 14 de julho de 2011

O saque foi longe de mais?


De barriga cheia, o eixo franco-alemão que adulterou os prometidos objectivos de uma Europa unida e solidária, com uma moeda única e a a uma só voz, acordou para os efeitos prolongados do saque.

Dos paliativos de coesão social e aproximação norte-sul, ao cabo de umas décadas sobrevieram as tormentas do excesso de endividamento dos Estados mais fracos onde as máfias políticas e financeiras eram mais permissíveis.

Com conhecimento claro dos fundamentos da macroeconomia que permite investimentos avultados e longe do alcance do Produto Interno dos Estados, os fundos estruturais dos programas europeus foram o isco para a corrida ao dinheiro fácil e barato que os insuspeitos fundos de investimentos incentivaram e disponibilizaram. É o seu negócio que assenta em estruturas de controlo e pressão, agora diabolizadadas pelos velhos aliados políticos que se deliciaram até ao pesadelo.

Os pregos e as marteladas nos campos económicos e financeiros com vantagens a dois e arredores, levaram vantagem sobre a destruição dos direitos e condições de vida das classes médias em geral, incluindo as dos seus países.

Os fundos de investimentos com a globalização e o controlo das matérias-primas e do dinheiro ganharam mais poder de fogo e estão a exercê-lo pelo seu instinto de classe, o que se revela na cúmplice desorientação política sobre as respostas ao estado destroçado e dramático da economia e finanças de muitos dos parceiros europeus. A Grécia era apenas o elo mais fraco do conluio.

Os resultados da reunião de ontem do ECOFIN são uma prova dos efeitos desses conluios. Nada é linear nas decisões políticas com larga margem para as manobras dilatórias do poder do capitalismo especulador.

Da eclosão da crise mundial e do colapso da Grécia até aos dias de hoje mediaram dois anos fatais para definir uma estratégia de definição e garras do inimigo e o provável desmoronamento do sistema euro, cuja implosão será o ponto de partida para muitas outras de consequências imprevisíveis para a maioria dos povos dos países mais expostos.

Mesmo no decorrer da crise e dos impactos na Europa, os países da linha da frente nunca abandonaram a visão do aproveitamento, tendo agora os ministros das finanças anunciado um alívio de custos e na chantagem sobre a economias dos mais fracos. O espectro de incumprimento da Grécia, a desobediência civil do povo grego em não pagar o que não contraiu e o problema do contágio, arrancou a letargia e a inversão de planos.

Mesmo com recurso às obrigações europeias que não deixam de ser uma forma de fraqueza (do mau estado financeiro de cofres públicos e Bancos) e aliciamento das poupanças dos povos com fins incertos, as sequelas políticas do processo de hesitação e inacção não deixarão de se reflectir no castelo… europeu.

Os Governos alemão e francês, sem capacidade de fazerem frente ao problema para o qual não tinham estratégia alternativa e com as poupanças dos eleitores enterradas nos negócios duvidosos que consentiram, são arrastados pela realidade de se fazer … alguma coisa, ainda que reclamada há meses e que teriam evitado tanta degradação.

A Comunidade Europeia, afinal mostrou que de comunidade não tem nada!

Luis Alexandre

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