quarta-feira, 13 de julho de 2011

Cortar na má disposição


Temos assistido nos últimos dias a um grito de revolta, revestido por vezes de alguma comicidade, contra à classificação atribuída pela Moody's a Portugal. Digo, com alguma comicidade, não pelo conteúdo dos protestos, mas por causa de quem os profere. Um dia, grandes amigos, numa relação de respeito mútuo, um casamento onde uma das partes é constantemente abusada, mas ainda assim um casamento feliz. No outro dia, um soco no estômago, diziam uns, e lá se foi pelo cano abaixo um casamento para vida e toda a felicidade de tantos e tantos anos de sagrada união.

C
usta por vezes dizer isto, mas vivemos num país de fracos, que aceitam de forma repetida aquilo que lhes é imposto, que aceitam que lhes roubem o 13º mês, que aceitam que lhe cortem o acesso a uma saúde pública de qualidade, que aceitam que lhes neguem o direito a um ensino público e de qualidade, que aceitam que lhes retirem direitos no seu trabalho, que aceitam, enfim, ser explorados e humilhados pelos “mandadores” nacionais e internacionais, mas que ficam indignados quando aqueles com quem viveram uma história feliz de amor durante anos vêm dizer que somos lixo.


Na verdade, lixo não somos, mas que os abutres e as gaivotas já rapinam há muito os nossos supostos “despojos” lá isso não podemos negar. Está na altura de nos erguermos. Não por causa das Moody's e dessas aberrações financeiras. Está, sim, na altura de nos erguermos porque nos roubaram a vida, porque nos roubaram o trabalho e porque acima de tudo nos roubaram a liberdade. Devemos dizer NÃO à liberdade que nos oferecem, porque a nossa liberdade não passa pelo decreto arbitrário dos outros. Devemos dizer que NÃO pagamos uma dívida que não foi contraída por nós e da qual em nada beneficiamos. E, como sabiamente afirmou Vergílio Ferreira, devemos dizer NÃO ao que nos limita e degrada para que possamos construir o SIM da nossa dignidade e construir assim um país e um futuro melhor.

Retirado do blogue Sputnik (Cartoon de Henri)

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