segunda-feira, 12 de abril de 2010

MAIS UM PRESIDENTE SAPADOR


Marcando uma tradição à portuguesa, os presidentes serviram-se do cargo, uns mais do que outros, para com o seu poder institucional, influenciarem a vida partidária original com reflexos no quotidiano político.

Eanes aproveitou para montar o seu partido bonapartista, Soares para prolongar no PS a sua evolução neo-liberal, Sampaio para abrir de novo as portas do poder e, Cavaco Silva, para tentar levar o PSD ao poder, de preferência com o selo do rasto pessoal que exibiu.

As eleições do princípio de 2011 têm dois candidatos, até ao momento por conta própria e, o próprio presidente que não sendo assumido trabalha nesse sentido, fazendo o que todos os antecessores fizeram, servirem-se do cargo para marcar pontos.

Fernando Nobre, que não é um produto de vontade própria ou espontaneísta, foi criado para dividir um campo, com prejuízo para uma imagem válida; Manuel Alegre, o poeta-político ainda se apoia na imagem do milhão de votos do passado, não distinguindo as épocas e supondo que o tempo onde se arrastou nas cócegas dentro do PS, jogou a seu favor.

Marcou o terreno fiado no milhão e, o melhor que conseguiu, foi o apoio do inevitável BE em perda de gás e de figuras dispersas do PS. Leva vantagem no tempo de campanha mas não leva em qualidade de intervenções. O Orçamento de Estado e o PEC apenas lhe inspiraram desabafos e não uma crítica de distanciamento, como que a dizer que sendo poder não lhe restava outra saída, senão uma atitude igual à de Cavaco.

Cavaco Silva, com a melhor vista para o panorama político e o orçamento da presidência a favor, terminados os Roteiros de auscultação e ultrapassada a turbulência eleitoral do PSD, passando a saber com o que conta, lançou-se no seu programa já estabelecido, falando ao país em tiro de partida e na forma de entrevista.

Não fugindo às regras para a ocasião e objectivos, Cavaco Silva percorre todos os caminhos sem distinção, fala de “reformas estruturais que Portugal precisa”, sem especificar, discorda da “sociedade dual, discriminatória para vastas camadas de cidadãos”, sem adiantar propostas sociais e remata a entrevista com um apelo: “a mobilização colectiva para enfrentar os desafios”, para pagarmos o buraco despesista do Estado e o socorro levado aos sectores seleccionados do sistema económico e financeiro.

Tantos anos de retórica não praticada, vinda de um ex-primeiro-ministro de maioria absoluta, que fala de justiça social e inspira o OE e o PEC, ao ponto de obrigar o seu partido a votá-lo pela abstenção, só pode confirmar que o país vai continuar no seu caminho trágico.

Cavaco Silva, presidente-candidato, em definitivo com a clemência sem saída de Passos Coelho, tem as mãos livres para desempenhar o papel da sua personalidade de estrela cintilante, entretanto insistente no papel religioso de converter os cidadãos nacionais em combatentes pela salvação do país, o que, por outras palavras, significa convencer a população activa continuar a suportar, ainda com mais desconsideração por si próprios, uma estrutura estatal polvilhada de parasitas de escolha partidária que, parafraseando o desenvolvimento e a nacionalidade, os vão condenando.

O próximo presidente tem esta missão, para a qual todos estarão condenados a concorrer e Cavaco Silva sente-se o eleito. E tem razão!

Luis Alexandre

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