terça-feira, 27 de abril de 2010

36 ANOS DEPOIS DO GOLPE DE ESTADO

Com um desplante de conveniência, em vestes reengomadas para o propósito e ditas democráticas, todos os partidos do hemiciclo, cada um consciente dos constrangimentos que provocaram na vida do país e sem peso de consciência dos factos decorridos, repetiram os diferentes discursos ocos sobre o evento do “dia da liberdade”.

Tantos anos decorridos sobre a intervenção militar que pôs fim ao regime fascista e do que representou para o país, são conhecidas as tentativas de diluição ou apropriação dos dois lados que corporizam o actual regime. Trinta e seis anos depois, a profundidade da crise que criaram aproximou-os e, neste 25 de Abril de 2010, as diferenças ficaram demonstradas que são de forma e não de fundo.

Todas as trombetas discursivas que ecoaram, cumpridos os louvores obrigatórios à efeméride que ornamenta o calendário, passaram ao que os preocupa, como convencerem o povo português a acreditarem nas suas novas imposições para a saída de mais uma situação gravosa da economia e que alguns afirmam ser a mais negra e perigosa desta maravilhosa democracia.

O traço comum desta comemoração foi o da lamentação e embaraço, com os políticos da nossa praça a serem acossados na rua, pelas suas responsabilidades no défice público e na monstruosidade da dívida pública, que vão provocar o desinvestimento e a degradação das condições das instituições e da vida da população.

O Presidente da República, que costuma estar no mais alto pedestal da ocasião, sacou do bolso uma velha teoria, apresentada como solução deste país, virar-mo-nos para o mar, quando ele próprio assinou muitos decretos contra a nossa soberania sobre as 200 milhas marítimas, a redução das pescas e da nossa frota. Falou do mar e porque razão se esqueceu da agricultura, do calçado, do vestuário e outras indústrias que foram sacrificadas às contrapartidas financeiras de uma Europa que nos propunha a solução das assimetrias para com os países mais avançados?

Hoje temos uma economia desestruturada, dependente do investimento estrangeiro que age sobre condições negociadas e vantajosas, enquanto o tecido e as iniciativas nacionais são deixadas por sua conta e debaixo da pressão dos impostos e das exigências bancárias.

Outros dois traços doutrinários desta comemoração do golpe militar de 2004 são, por um lado, o pensamento da direita tradicional de condenar o PREC na desorganização do Estado e da sua autoridade, procurando confundir o povo sobre a sua verdadeira e não concretizada aspiração à revolução, e, por outro, comum às duas faces deste regime democrata-burguês, a fastidiosa alusão à corrupção instalada, que mina e impede a sociedade portuguesa de se desenvolver, como se fosse um fenómeno fantasma e estranho aos senhores e organizações que têm dirigido e controlado toda a vida do país.

Os anos passaram, o país comemora uma data, os que viveram aqueles dias de esperança vivem hoje na angústia da ocasião falhada e as gerações mais novas vivem as liberdades e perigos que herdaram, ainda sem a percepção das responsabilidades que lhes estão imputando.

Como todas as datas na História, esta também vai gerar as mudanças!


Luis alexandre



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