domingo, 14 de março de 2010

O QUE QUER O PSD?

Se ao longo da preparação do conclave laranja ninguém dentro das fileiras dava nada por ele, na véspera chegou a conclusão de que havia que reduzir o desperdício ao mínimo.

Resultado de um ímpeto do menino-guerreiro, rapidamente as hostes cavaquistas no comando trataram de o desvalorizar e nenhuma outra corrente deu para o peditório. Santana Lopes, sem os argumentos e quaisquer resquícios de áurea, viu os 4 candidatos assumidos, dos 40 possíveis, darem forma às visões pessoais e intransmissíveis, de que as suas teses dispensam o grande comício de individualidades e tendências, porque se sentem mais à vontade no fervor basista, onde, ingenuamente, julgam que tudo se decide.

Com a orfandade do estilo autoritário do cavaquismo, que soube tirar partido dos gloriosos fundos comunitários e criaram no país a falsa ideia de que o boom do investimento estrangeiro que produziu elevados números de crescimento anual eram irreversíveis, o PSD entrou em depressão profunda, substanciada na fuga de Durão, na desonra da destituição do Governo anacrónico de Santana e quedas sucessivas de líderes.

Com a acentuação dos sinais de desmoronamento da desestruturada economia nacional e o sufoco financeiro das empresas de base nacional e da classe média, que lhe trazem peso na consciência, o PSD deu a iniciativa política ao PS e continuou mais virado para as inconsequentes disputas internas e produzindo observações sociais tão desconcertantes como a “suspensão da democracia por 6 meses”, possivelmente prorrogáveis, a “asfixia democrática” e a recente cambalhota da abstenção sobre o OE, com o qual dizem não concordar.

Com a invasão do seu ideário e das políticas neo-liberais pelo PS, o PSD não tem conseguido a influência da estrutura social do país e nem o actual momento de fraqueza do Governo minoritário e grande desprestígio do seu chefe, lhe conferem a confiança da população.

A imagem de confusão exteriorizada na abundância de candidatos ao trono, revela o mau momento de forma e de conteúdos da família laranja. São linhas programáticas a mais, de base sectorial, susceptíveis de manterem a desunião e não interessarem o exterior. E depois há a sombra do PR, insonso em termos nacionais e sonso em termos restritos, que tem uma eleição para disputar e precisa de manter uma influência visível nas decisões do partido. A vitória de Passos Coelho, seria quase o rompimento com o cavaquismo partidário, o que incomodaria Cavaco Silva, pouco dado a ficar refém de pessoas que não lhe prestam vassalagem. Qualquer dos outros candidatos e o jogo da profusão, para além da ambição pessoal, é exactamente deixar tudo como está, isto é, colocar estrategicamente a reeleição de Cavaco, deixar o Governo desgastar-se na legislatura e dispor de tempo até 2013, para a compostura interna.

È fácil de constatar, que primeiro estão os interesses do PSD e seus pares e depois vêm as necessidades do país. Fora ou dentro do poder, o estilo é sempre o mesmo.


Luis Alexandre

(escrito a 13 de Março)

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