quinta-feira, 18 de março de 2010

DIZ O ROTO PARA O NU


À falta de outras matérias relevantes para o Algarve, os líderes distritais do bloco central, Miguel Freitas e Mendes Bota, resolveram picar-se em torno de hipotéticas declarações de Passos Coelho, um “velho” aspirante ao poder no PSD, que com a sua chancela colocaria em causa no futuro algumas parcerias público-privadas.

O guardião do Algarve, Miguel Freitas, viu nestas declarações uma ameaça para a construção do hospital Central do Algarve, que se insere nesta categoria de investimento, o que provocou irritação no sangue laranja de Mendes Bota, que deu um sinal da sua preferência na corrida interna.

Tal trica, que sempre movimenta a imprensa, tem, contudo, um significado de fundo de fácil leitura e interpretação: confirma que o dossier do Hospital Central continua em banho-maria, apesar de ser uma velha promessa eleitoral das duas partes em conflito de palavras de circunstância.

O Hospital central não pode depender de quaisquer eleições partidárias e do humor filosófico dos seus líderes, porque se trata de uma obra pública de interesse nacional e cujos fundamentos e estrutura financeira deveriam estar definidos há muito. Assim o exigia a dignidade política para com os algarvios.

Neste diálogo de cúmplices, passa-lhes ao lado a oportunidade de acrescentarem ao tema quem quer ou não o Hospital, a discussão do estado da Saúde no Algarve, que à semelhança do país, assiste paulatinamente à destruição do Serviço Nacional de Saúde, à substituição dos serviços públicos por serviços privados, com a pulverização estratégica do território com hospitais e clínicas privadas.

O que o SNS não responde, é encaminhado para a prontidão dos privados, que contam com o apoio e a decisão políticas concertadas.

Questões como a falta de médicos e enfermeiros na generalidade dos serviços hospitalares e Centros de Saúde, a exígua cobertura de médicos de família, em que alguns concelhos algarvios estão abaixo dos 50%, os horários curtos da assistência médica e medicamentosa no interior, os excessivos tempos de espera para consultas e cirurgias, tudo isto não mereceu uma palavra de atenção.

É para continuar, porque numa questão os dois líderes e partidos estão de acordo: as suas políticas neo-liberais apontam para o princípio do utilizador/pagador e para o fabuloso negócio dos seguros privados, cujas percentagens de cobertura deixam a imensa maioria da população em dificuldades para o seu recurso.

Curiosamente e porque o nome de Passos Coelho está no centro da polémica, este já produziu uma frase sintomática do seu pensamento e das clientelas que pretende servir, ao dizer: “que cada um tem de cuidar da sua própria vida”!

O que se pode induzir dos jogos de palavras dos intervenientes, é que o Algarve vai continuar a ver degradar-se a Saúde pública, que os investimentos privados nesta área são protegidos, enquanto o Hospital Central espera e pelos vistos nem concurso tem, quanto mais data para o seu inicio.

A construção do Hospital Central junta-se assim, ao folhetim da requalificação da EN 125.


FORUM ALBUFEIRA

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