quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O que esperam os algarvios da UAlg e da AAUAlg





















O recente aniversário da academia algarvia e as recentes eleições para a associação de estudantes, com o alerta de falta de ambição do projecto universitário vindo de um conselheiro e a recondução do anterior presidente da AAUAlg, levantam a questão da importância que deveriam ter estas duas entidades nas dinâmicas de desenvolvimento da região.
Trinta e um anos depois das saudações e da satisfação pela criação deste expoente de formação e cultura, as propostas de trabalho do presidente reeleito da associação e a crítica pública exterior à região, vêm levantar a oportunidade da renovação do debate sobre o seu papel universalista, o valor e profundidade da intervenção social e política, numa perspectiva de crítica e de balanço dos níveis de satisfação e do que ficou por fazer.
Não estando em causa os contributos alcançados e reconhecidos à UAlg no seu trabalho de inserção na região, trata-se de questionar o seu papel na degradação das condições sociais e económicas e a forma como pode influenciar e até dirigir o seu futuro, intervindo, criticando e propondo direcções de trabalho que alterem e afinem uma estratégia de adaptação aos novos tempos.
A análise de que o Algarve padece de cansaço e mesmo esgotamento de paradigmas, provocados por níveis baixos de literacia dirigista e que obedeceu a critérios partidários de abuso do uso do território numa visão de curto prazo e egocentrismo concelhio, é sustentada e contou com a conivência, atropelo e excesso de instituições reguladoras e a benevolência das do conhecimento.
Com a gravidade da crise que atravessamos, apesar das folgas financeiras dos concelhos mais turísticos e de mais de 20 anos de apoios externos cuja dispersão não contribuiu para a sustentabilidade, o Algarve parece não ser capaz de fugir do abismo, acumulam-se os problemas e as forças locais parecem letárgicas e dependentes, podendo a Universidade tomar a dianteira na reacção e definição de um novo modelo de desenvolvimento, cortando no desperdício e com total aproveitamento dos recursos disponíveis e a sua ligação ao QREN.
Falta ao Algarve uma visão e trabalho de conjunto, onde o estudo e o conhecimento têm de vencer o protagonismo e o oportunismo político das virgens instaladas, saídas dos conluios partidários, que se conchavaram e constituíram num factor de obstrução e insistência nos estereótipos.
Sobre a AAUAlg, o caminho percorrido está mais virado para o divertimento e as pequenas tarefas caseiras de apoio ao estudante do que para os grandes problemas do crescimento da oferta universitária, a qualidade dos cursos, as garantias do Estado de que nenhum aluno aplicado deixa de estudar por falta de condições financeiras e a capacidade de integração no mercado de trabalho, questões em que deveria provocar a polémica com a direcção da escola, as autoridades e a sociedade.
Se a degradação da Acção Social, que vai repor a selectividade financeira no acesso ao ensino superior é um problema agora colocado na ordem do dia, outros, como o aumento das propinas, os 60 mil licenceados desempregados e os que foram obrigados a aceitar trabalhos desapropriados das suas competências, somados à crescente redução da capacidade financeira das famílias, têm estado no esquecimento do movimento estudantil.
O reconhecido valor acrescentado da UAlg na vivência e economia da cidade e da região são dados adquiridos que justificam retorno por parte do poder, não podendo a carteira reivindicativa dos estudantes ficar-se por questões menores.
O Algarve precisa de uma Universidade interventiva, que queira correr riscos e traga para a rua as suas opiniões de afrontamento das políticas públicas e privadas que se revelam incapazes de nos dar um rumo de crescimento e criação de riqueza social.
A crise que abala o mundo, o país e a região já está trazendo convulsões e modificações políticas que em Portugal não se fazem sentir. As velhas políticas e as suas estruturas que geraram o nosso endividamento e empobrecimento não foram abaladas e procuram salvar a face. O país definha e as assimetrias regionais vão aprofundar-se. As culpas vão transformar-se num poder renovado sobre a continuação das nossas ilusões e iremos continuar a pagá-las bem caro. O Algarve está a pagar a crise bem cara. Os algarvios conhecem os seus problemas e quem os engana. Falta saber até quando e como nos devemos orientar na criatividade e na ambição!

Luis Alexandre

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