segunda-feira, 17 de novembro de 2008

COMENTÁRIO DE UM LEITOR, SOBRE A RESPOSTA DO MINISTRO.

Ex.ma Senhora Deputada
Alda Macedo
16Nov08

Em referência ao desastrado ofício do Chefe do Gabinete de “Sua Excelência o Ministro” do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, a mando deste, e que procura dar resposta à pergunta do vosso Grupo Parlamentar, sobre as cheias na Baixa de Albufeira, acho-me na obrigação de prestar alguns oportunos esclarecimentos, que espero vos sejam úteis:

1- A resposta decalca as habituais esfarrapadas desculpas que a Câmara Municipal de Albufeira vem lançando a público, o que denota que o Ministro não se preocupou em mandar indagar da verdade sobre tão grave assunto, e lançou mão da primeira hipótese de se descartar dele que lhe surgiu, sem se preocupar que não fosse fidedigna.
1.1- Albufeira para o Ministro não passa duma terriola de terceira, com que não lhe apetece perder tempo... Quando se trata ao invés duma das poucas coisas economicamente ainda francamente viáveis neste País, e responsável não só pela imagem de Portugal na Europa como no Mundo, com o seu ainda forte carisma turístico, e a captação de divisas que lhe é inerente! Basta referir que tendo uma população residente da casa dos 30.000 habitantes, consegue atingir nas pontas turísticas cerca dos 300.000, tornando-se assim então, logo a seguir à Grande Lisboa, e ao Grande Porto, o terceiro centro populacional do País! E é através dos muitos que a visitam que a imagem dum Portugal belo (diferente e natural, coerente em suma), ou feia pseudo carnavalesca como a deste “Polis novo-rico”, vai para o Mundo (não pela da cara dos políticos, por mais que falem e se mostrem)!
1.2- Toda a actuação do PolisAlbufeira nesta “capital do turismo nacional” é francamente desastrosa, e estúpida até em todos os aspectos, ao ponto de mais cedo ou mais tarde ter de ser inequivocamente revertida, custe o que custar, e doa a quem doer! Assim o exige a economia local, e a nacional, e ainda mais importante que isso o pensar das gentes locais, verdadeiro sustentáculo duma verdadeira Democracia, totalmente atropeladas por um Polis e uma Câmara inqualificáveis, casmurros face às evidências, e surdos !

2- Quanto ao aspecto “técnico” da resposta que a Câmara acabou por impingir ao desatento Ministro, há que referir graves erros:
2.1- É totalmente falso que “O escoamento das águas pluviais na Baixa de Albufeira é um problema antigo”, pois durante 50 anos não houve qualquer cheia em Albufeira na zona intervencionada pelo Polis, e mal este entulhou a canalização antiga, substituindo-a por nova com menos de 1/10 da secção da anterior, começaram as cheias, e já vamos dizem que em 9 (Já se perdeu a conta...). É fácil ao “Ministro desatento” mandar alguém abrir um buraco “arqueológico” na zona, e confirmar que isto é totalmente verdade. Mais fácil ainda é consultar as muitas fotografias que recolhi durante as obras, e que atestam tudo o que afirmo! Pedirem estudos a meio mundo, ainda que ao Einstein, é pura perda de tempo, e só serve para protelar o problema, e ocasionar mais graves danos aos muitos já lesados. Mas como vivemos num País onde se fazem todas as burricadas e asneiras e ninguém é responsável, peçam lá todos os pomposos estudos que quiserem, mas depressa!
2.2- É igualmente totalmente falso, anedótico e ridículo, alguém ter o descaramento de afirmar que “As obras executadas pelo Programa Polis em nada alteraram as condições existentes nos troços intervencionados”, quando a verdade é que:
2.2.1 O Polis arrasou antigos arruamentos do centro de Albufeira, dantes asfaltados, com valetas, passeios elevados e degraus de soleira nas portas dos edifícios, e com inclinação de ruas que levavam naturalmente as águas em contínuo para o lado do mar, e servidos por um velho colector tripartido de apreciável secção que durante 50 anos provou ter capacidade suficiente (pois nesse longo período na zona não houve aí uma única cheia!)...
2.2.2 E substituiu isso tudo por “um conjunto de mixórdica solução”: ao velho e eficiente colector entulhou-o, substituindo-o por um “canito” com menos de 1/10 da secção do anterior; ainda por cima elevando a sua cota base, o que dificultou o acesso de águas vindas de velhos canos subsidiários e de edifícios próximos; elevou a cota dos arruamentos pondo-os ao nível do cimo da soleira das habitações, o que as deixou totalmente à mercê da mais pequena inundação; alterou a escorrência natural de águas, invertendo-a nalguns sectores em relação ao natural, o que originou “lagos” indesejáveis, às vezes de trampa; e ainda por cima substituiu as velhas sarjetas por ridículos sumidouros com 1 centímetro de secção!... (E cobriu tudo a cimento de garagem, lajedo sempre a partir-se, ou “calçada à balda” sem desenho sempre a descascar-se por mais remendos que leve!... triste “Polis sem concerto possível”...)
2.2.3 Como “quem manda mais que a teoria, é a realidade”, a água que “não deixam correr por baixo, corre por cima”, e mesmo aí em piores condições do que anteriormente! Há que desfazer tudo o que o Polis aí fez! Não há outra qualquer solução possível! E se não forem feitas as correcções que se impõem, ainda pelos “poderes” de agora, serão feitas pelos que se seguirem, pois felizmente ninguém é eterno (e a continuar a “casmurrice oficial local”, Albufeira ajudará fortemente à mudança! Estamos fartos dum somatório de arrogância incompetente, por parte da Câmara, dum Polis alienígena, e dos seus mentores! Queremos “cidadãos” a decidir, Homens a sério... não gente que autoclassificando-se como “políticos”, se julga mais que os outros, e age “com o freio nos dentes”, como se o fosse!...).

2.3 Na resposta do Ministro, percebe-se que quem a fez não tem a mais pequena ideia do problema local, ou sequer do que é a rede de esgotos em causa, como se pode deduzir do confusionismo imanente às afirmações de que: “O projecto completo não está ainda concluído, estando em curso a construção de um emissário submarino, peça essencial para o escoamento de esgoto pluvial sem contaminação de praias”; e “A conclusão do emissário submarino permitirá à Câmara Municipal de Albufeira uma melhor gestão da rede pluvial.”. É que:
2.3.1 Estão a misturar positivamente “alhos com bugalhos”. Não há uma rede de águas pluviais no centro de Albufeira, mas duas totalmente independentes entre si, e o emissário insere-se numa outra rede que não tem nada a ver com a rede em que o Polis interveio, e portanto não tem a mínima hipótese de contribuir em nada em benefício desta! A rede Polis é unicamente a de escoamento das águas pluviais que caiem em parte da zona urbana nascente da antiga vila de Albufeira, e não recebe águas de mais nada.
2.3.2 A outra rede de águas pluviais, a que (e mais uma vez mal...) vai ser servida pelo emissário submarino, é constituída por um grosso colector de secção hidrodinâmica, rectilíneo e com uns bons 3 metros de secção, que conduz directamente para a praia as águas do ribeiro torrencial de Albufeira, que recolhe as chuvadas de quase metade da área do Concelho. Esse colector foi construído para acabar, e conseguiu com as cheias que até meados da década de 1950 atormentavam o centro de Albufeira, e não tem qualquer ligação ao resto da rede! Esse ribeiro, naturalmente corria torrencialmente é certo 3 ou 4 vezes ao ano, normalmente fora da época turística, e 2 a 3 dias de cada vez, o que não incomodava de maior a vivência de Albufeira.
2.3.2.1 Só que há uns anos a Câmara fez uma central de tratamento de esgotos nas Ferreiras, a uns 4 Km para o interior, dotada duma boa lagoa de fim de tratamento dos efluentes, de apreciável dimensão, e tratou logo para se “desenrascar” de enviar esses efluentes indesejáveis para o barranco. Pelo caminho foram sendo engrossados pelos dum parque de campismo e outras urbanizações vizinhas do ribeiro, e passaram a sair sem mais, intempestivamente, na boca do colector pluvial entre as concorridíssimas praias do Peneco e dos Barcos na Enseada de Albufeira!... Ao longo de todo o barranco, um caudal permanente (que dá bem para encher totalmente um cano com uns 80 centímetros de secção...) passou a irrigar luxuriante canavial, e silvedos, quando devia isso sim ser elevado para regas de todas as zonas verde públicas do litoral concelhio (o que limparia a Costa de águas indesejáveis, e contribuiria apreciavelmente para a redução do imenso consumo de águas do Concelho)!
2.3.2.2 Para evitar que essas águas atingissem as praias, existia um expedito sistema que as desviava, até certo caudal, para o velho esgoto do outro sistema referido anteriormente (o que o Polis estuporou, como atrás referido), só passando a circular pelo colector maior quando em enxurrada. Era a única ligação entre os dois sistemas.
2.3.2.3 Só que o Polis, como reduziu a 1/10 a secção do cano que fazia “esse favor” ao grande colector, e às praias anexas, não lhe convindo absorver uma água que “o brinquedo de canito novo” não tinha qualquer hipótese de conduzir, irresponsavelmente inutilizou esse desvio com uma pequena comporta de madeira... E tivemos dois inteiros anos a ver correr e a cheirar esgoto meio negro praia afora até ao Mar, directamente no areal mais famoso de Portugal, inclusive nas pontas de Agosto, com permanências diárias da ordem dos 10.000 utentes nos arredores, e estrangeiros pasmados, a ver e fotografar uma paisagem de terceiro mundo totalmente descabida numa Albufeira que já foi de espectacular beleza e alguma qualidade, o que se exige volte a ser! (E, que quem não tem capacidade para gerir a coisa pública, que vá de vez para de onde veio... gerir o seu quintal como lhe aprouver!)
2.3.2.4 Agora aventam a colocação dum emissário submarino para levar o caudal do esgoto semi-tratado das Ferreiras para o Mar lá mais fora, longe do areal. Solução má, pois não contribui o suficiente para a qualidade das águas da Enseada turística de Albufeira. Solução dispendiosa, e não menos cara decerto que a elevação dessas águas para a rega do verde urbano público, como já referido por desejável. Solução incompleta, pois o caudal muito maior das enxurradas quando em cheia, não vai caber decerto no emissário, pelo que a boca do mesmo terá de ficar aberta, e aberta à curiosidade de turistas que não vão perceber o inexplicável...

3 Aproveito a referir outra grave anomalia que está a ser introduzida no Pontão no Mar onde desembocam os restos do outro sistema de esgotos, o do centro da antiga vila de Albufeira.. O mesmo está a ser fechado com estacaria de ferro, entre os pilares que o sustentam, ora isso: além de desfear horrorosamente uma das mais belas paisagens do País, que devia como os mais belos (e raros a nível mundial!!!...) troços do Barlavento algarvio, estar classificada como Património da Humanidade (e nunca ser vandalizada pelos poderes públicos...); impede o livre movimento de areias na Enseada, o que descarna as praias, impossibilitando a sua recarga natural, e a limpeza natural do próprio areal. É péssimo! (Albufeira nunca desejou imitar Quarteira, nem ter o areal desta, de má qualidade, e espartilhado entre feios pontões!)

Sempre ao dispor. Agradecendo a atenção prestada a Albufeira. Atenciosamente.

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