terça-feira, 14 de setembro de 2010

A República falida

Estão decorridos dois anos sobre a declaração pública de implosão da economia da principal potência capitalista, os EUA, que rapidamente desmoronou as economias associadas, incluindo a egocêntrica estrutura europeia, senhora do seu nariz e da sua moeda, que se revelou insustentada e escrava da teia política e cumplicidade com os especuladores do outro lado do Atlântico.

As fraudes e os elevados riscos dos jogos financeiros com os dinheiros dos cidadãos, empreendidos pelos Bancos e pelos Estados, dando forma a uma das mais velhas alianças de interesses entre detentores do dinheiro e os políticos, puseram a nu a dimensão e gravidade dos abusos que são exercidos sobre as sociedades e os seus recursos, contornando ou mesmo ao abrigo das leis fundamentais.

A Europa egoísta, supondo-se avassaladora, organizada, estanque e unida por ideais…, distraída no galopar do euro e na concentração de poderes, assoberbada com os saques das potências mais apetrechadas, percebeu tarde que afinal não tinha estruturas de suporte na sua estratégia de agrupar e se aproveitar dos países mais fracos e dos farrapos do desmantelamento das economias do leste europeu, sob tutela do oportunismo e do capitalismo de Estado, liderado pela Rússia e promovido no famigerado bloco Comecon.

Portugal, um desses elos mais fracos cujas elites políticas hipotecaram a sua economia e finanças, depois de iludirem a população sobre o verdadeiro mau estado das finanças públicas e da banca, rasgado o véu de virtudes do período eleitoral, abateram-se com toda a veemência sobre uma classe trabalhadora indefesa e endividada, que procurou reagir, manifestando-se sem que essas energias tenham sido dirigidas para abater o poder governativo responsável.

A profunda crise do sistema, cujos alicerces estão minados e sem que o grande capital arrisque os acumulados, saldou-se em Portugal pelo esclarecimento de que devemos um ano de trabalho, que os cofres do Estado estão vazios e em risco de incumprimento com os seus funcionários e os credores, que a respeitável Banca, depois de uma primeira simulação de resistência, já vai em 50 mil milhões pedidos ao BCE e que o buraco continua insanável, fazendo saltar o tampão de cobertura do Banco de Portugal que recebeu e deu ordens de diversificação das fontes de financiamento.

A aflição geral, difícil de dissimular, mesmo com o Estado a injectar o aumento da dívida pública nos Bancos e poupando-lhes os impostos devidos à sociedade, não lhes dá o fôlego para que as empresas e a economia em geral possam contar com aquela que deveria ser a real vocação deste serviço.

A situação política em Portugal caracteriza-se por um Governo que faz que governa, que transforma uma décima de crescimento temporário e insustentado num milagre, menospreza todos os factores de paralisação social e económica, está mais virado para a sua sobrevivência, trava uma luta política fora de tempo em torno da Constituição, vive na dependência das suas fraquezas exploradas pelas diatribes de um PSD sedento das mordomias do poder, parte para uma eleição presidencial ferido de derrota por uma dissidência mal resolvida e apropriada por um grupelho sombra e ainda longe da volta ao espaço residual de onde emergiu e, rezando para que as soluções aplicadas nos países economicamente mais fortes lhe tragam alvíssaras, alimenta uma desconfiança natural para com o seu polícia-presidente, um revanchista nato, que não esquece a inversão de posições no passado, onde o Dr. Soares, outro revanchista, lhe entorpeceu a governação.

O país e a sua população, num limite de sofrimento desesperante, assistem impotentes e sem direcção à degradação provocada pela sua má condução política e policiada pela intransigência da Comissão Europeia.

Um país falido transforma-se num pedinte e se por mar cavámos a glória e os proveitos, por terra afundámo-nos!

Luis Alexandre

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