quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O FMI não precisa de bater à porta


Símbolo do FMI

O FMI já não é visita da casa, não precisa de ser convidado, tem as portas franqueadas, velhos amigos no território e é conhecedor dos cantos (leiam-se vícios) da casa.

O Dr. Soares, patriarca do PS, fez amizades no serviço, noutros tempos embaraçosos de primeiro-ministro que lhe pouparam as desculpas e o trabalho, fazendo dele, naturalmente um homem compreensivo, disse-o na imprensa, se o seu colega no cargo for agraciado com a hospedagem destes endireitas endeusados das finanças públicas, acima dos Estados e sem que se conheça quem e os termos que os legitimaram.

Esta instituição supra-financeira, sem rostos visíveis e em jeito de operações especiais, de acção rápida para os efeitos desejados, constitui a última reserva de intervenção pacífica do ponto de vista social na escala dos meios do sistema capitalista que, quando os desmandos políticos atingem o limite nas cedências às populações, pondo em risco a apropriação dos meios de produção e dos seus valores acrescentados, aparece como espada de intervenção que não perde tempo em explicações e age para recompor a ordem vigente.

O estado supremo de vagabundagem das finanças portuguesas e o aproveitamento das organizações dos credores, que se desdobram em três frentes: investimentos com apoios locais e desvios lucrativos (multinacionais), saque dos lucros para financiamentos (off-shores e fundos de investimento) e empresas de julgamento depreciativo para maior aproveitamento (rating), não vão em jogos contemplativos e sabem como usar as ambições e os serviços dos políticos oferecidos e as suas irresponsabilidades, como peças das suas estratégias.

Antes do pacote de eleições do ano passado, tivemos ocasião de denunciar o pacto geral dos partidos, do parlamento e do Presidente da República, sobre o estado de falência do país e da gravidade das soluções que estavam pressionados a tomar e que se abateriam violentamente sobre os trabalhadores, os reformados e as micro, pequenas e médias empresas de todos os sectores da actividade económica.

Durante a expansão alegórica de convencer os eleitores nada foi dito fora do pacto e, logo à saída das eleições, quando já tinham arrumado os apoios aos sectores estratégicos do capital, com injecções de garantias do Estado de dezenas de milhões de euros, tudo se revelou de forma cruel sobre os cidadãos indefesos.

Como resultado, o despesismo público escondido era quase o triplo, a dívida externa equiparou-se ao PIB de quase um ano mas, a nomenclatura não perdeu o polimento e a concertação, apressando-se a correr a cortina dos custos do Estado social, que tem estado no centro das polémicas artificializadas, dando forma à estratégia de PS e PSD, de lançar o ónus das culpas e os custos para as costas dos trabalhadores.

Como os PEC não estão a dar conta do recado e os especuladores aproveitam o cerco, o OE para 2011 tem de escrever as ordens que vêm de todos os lados, impondo o acerto de maioria parlamentar, ignorando o que se passa na vontade das ruas, relativizando a acesa luta pelo poder e a vacuidade da retórica de Cavaco Silva.

Os credores e as suas diversas organizações querem a inversão da situação, que o povo seja responsabilizado pelo pagamento da desordem para o restabelecimento da velha ordem económica, deixando a questão do poder para depois.

O que o povo português pode perceber da grave crise criada, é que os partidos responsáveis não têm soluções, se agacham para sobreviver, sem excepção, cumprindo os seus papéis históricos de fazer vergar o trabalho.

Continuamos um país atado e humilhado, a mando…

Luis Alexandre

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