segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Presidenciais: o desperdício


Cavaco Silva, que na qualidade de primeiro-ministro raramente tinha dúvidas, entrou em cena para a recandidatura presidencial quando quis e as certezas estavam consolidadas.

Os outros candidatos perfilaram-se cedo e mostraram-se atávicos por falta de “inimigo”. Aparentemente, Cavaco deixou-os órfãos de matéria e estes resmungaram a impotência. Na hora da declaração, limitaram-se a abrir alas.

Foi um Cavaco triunfal que se apresentou ao país, com uma mensagem de homem providencial e figura incontornável do futuro do regime, que ele presidiu até à conjuntura actual.

Cavaco presidente, no papel de recandidato, omitiu as falhas graves de percurso e refugiou-se no auto elogio. A sua convivência com S. Bento, com o Governo, com a Madeira, os microfones e a bancarrota, não lhe beliscam a consciência. Conhece e joga nas vantagens que o impõem sobre os outros remendeiros.

Numa corrida completamente desigual, mesmo com partes da direita que o apoia conformada, Cavaco Silva, o tecnocrata forçado a político, não foi capaz de produzir qualquer conteúdo ideológico para o país no sentido da recuperação da sua base produtiva e da independência nacional.

O presidente-candidato, reafirmou o uso do cargo ao lado do capitalismo internacional, afirmou-se o mais competente para o efeito e não questionou as razões e quem enterrou o país, por ser também causa própria, manifestando a sua disponibilidade política para fazer o povo português cumprir as obrigações contraídas pelo desgoverno de mais de três décadas.

Com o presidente a viver novos momentos de sonho e com a crise e a confusão instalada a favorecerem a sua autoridade arbitral, os opositores mexem-se com respeito, porque a sua visão para as soluções dos problemas do país, não diferem nas questões de fundo.

Todos são candidatos dos PEC e dos Orçamentos que têm de prestar contas… aos exploradores estrangeiros e a uma minoria de nacionais. Os Orçamentos passados foram de mãos largas para o regabofe da política e da economia com base nas importações e no aumento da factura pública, com a particularidade de o de 2009, já com o espectro da bancarrota bem definido e contabilizado, ter sido para cobrir e avalizar os buracos financeiros da Banca mais os do sector empresarial do Estado, que redundaram no deficit actual que querem, como sempre, seja o povo a pagar.

Por isso não admira o apagamento das eleições presidenciais e o pouco empenho dos corredores, quando o eixo das atenções é o OE 2011 e a sua aplicação. Todos estão com o Orçamento, porque sem este papel de compromisso de pagarem aos credores com o dinheiro roubado ao suor do povo, não há crédito para as contas de um Estado gordo e anafado, com toda a sua corte de vagabundos.

As presidenciais de 2011 são um desperdício e um passo para a consagração de um dos expoentes nacionais do despesismo, da conflitualidade estéril, do encobrimento, da perda da independência nacional e da obediência aos caudilhos estrangeiros.

Do remendeiro Manuel Alegre, no desassossego das suas contradições burguesas de vassalagem, figura poética do êxtase político que nos trouxe ao actual quadro nacional, apoiado pelos aprendizes de remendeiros do BE e as alas displicentes do PS, esteve fora do turbilhão que vai ser servido ao povo e estará fora da luta sem tréguas que este, eventualmente, venha a desenhar.

Cavaco Silva reeleito - o homem frio e calculista que satisfaz as ordens externas -, é uma imposição da conjuntura (Sócrates e Passos Coelho tiveram de se agachar) para fazer a Nação ajoelhar na prestação de contas, como nas tarefas de repressão que a luta social venha a exigir.

Luis Alexandre

Faro, 10 de Novembro de 2010

9 comentários:

j.e.simões disse...

Os "aprendizes de remendeiro" do BE nunca votaram no "herói" do 25 de Novembro...ao contrário de uma "esquerda" que até participou na sua campanha presidencial, em 1976...

Luis Alexandre disse...

Os grupelhos trotskistas que hoje formam o partido da televisão que dá pelo nome de BE, estavam agrupados nas costas do partido social-fascista - o P"C"P -, para a realização do golpe falhado do 25 de Novembro de 1975.

Os partidos que se diziam e dizem dos trabalhadores preparavam-se para tomar o poder pelo golpe, por via das suas influências na tropa, apenas ao nível da oficialagem e, felizmente, foram rechaçados pelas forças democráticas da sociedade, onde o actual general Eanes foi a peça aglutinadora dessa ampla frente.

O apoio estratégico para a contenção do golpe resultou no evitar, em primeira análise na transformação do nosso país num satélite do social-imperialismo soviético e, em segunda análise no evitar da guerra civil em Portugal.

O consequente apoio para a presidência permitiu estratégicamente a continuação da sociedade democrática que entretanto descambou nesta desavergonhada e falida democracia parlamentar burguesa, onde o P"C"P e os seus satélites reunidos no BE se dão muito bem e às costas dos sacrifícios populares.

Noa actual quadro político que diferença faz apoiar Alegre ou Cavaco se são os dois produtos das duas faces da mesma moeda falida? Os outros não contam e o do P"C"P é apenas para blindar o eleitorado.

j.e.simões disse...

Fiquei esclarecido...
Felizmente, o antimarxismo estalinista-maoísta já revelou a toda a gente as suas "capacidades" e a "beatice" das suas leituras integralistas a-históricas, já patenteou as suas consequências.
Tresleram Marx, sem nunca o ter lido, ou ao menos entendido...

"Quem não quer NADA, pede MUITO...", como diz o POVO.

Luis Alexandre disse...

Qualquer troskista é esclarecido... lendo Marx para o rever... e, o que não sabe, em termos actuais, pergunta ao P"S" ou ao P"C"P.

j.e.simões disse...

A Revlução Socialista só pode ter origem em países desenvolvidos, onde as forças produtivas capitalistas atingiram a sua plenitude e exaustão. E não em países semi-feudais (Rússias, Chinas,etc), porque ela resulta da falência do Capitalismo global, no su estádio mais avançado.
Isto é Marx!
O resto, como se sabe, foi ficção revisionista... e já teve o resultado que merecia.

Luis Alexandre disse...

Marx e Engels são dois teóricos que nunca viveram a Revolução. Lenine, na linha filosófica dos precedentes, encabeçou-a. O materialismo dialéctico está sujeito à luta de classes. Uma revolução é um principio de transformação onde essa luta é travada sem tréguas.
A ideia de que "só resulta no extertor do capitalismo", é absolutamente revisionista do marxismo.
As tevoluções soviética e chinesa, que deram novo sentido ao mundo, foram vencidas pelo revisionismo das ideias marxistas-leninistas-maoistas, que substituíram o poder dos órgãos populares pelo capitalismo de Estado e pela criação de uma classe de burocratas que se afastaram do povo e das suas necessidades.
Será que podemos deduzir das palavras dos anteriores comentários que os troskistas do BE, estão a cumprir a missão patriótica de acelerar o capitalismo português para o seu estoiro?
Os troskistas portugueses criaram uma nova cartilha... à medida.

j.e.simões disse...

Se acreditamos no valor dos postulados de Marx e Engels, temos de lhes seguir a matriz, e não adequá-la às conveniências.

Em coerência com o pensamento de Marx,são as crises de sobreprodução do sistema e a proletarização de amplas camadas da população daí resultantes, os agentes da Revolução. O que subentende, necessariamente, os pressupostos de Marx, ou seja, de um Capitalismo avançado e exausto, vítima da sua própria lógica funcional.

A teoria marxista adequa-se à evolução do mundo e dos tempos de forma perfeita.É tudo uma questão de saber adoptar a sua estrutura teórica como um organismo vivo e dinâmico, e não como uma "cartilha maternal".

Lenine, Stalin e Mao são o passado (falhado) de pseudo-organizadores de pseudo-estados socialistas. Porque degeneresceram e se burocratizaram os “estados operários”? O materialismo dialéctico não contempla “acasos”…

O caminho para o Socialismo resultará de condições objectivas e da necessidade das pessoas daquelas resultantes. E não de "vanguardismos" nem de "voluntarismos" de pacotilha.

Luis Alexandre disse...

A luta política revolucionária protagonizada pelas classes mais pobres que levaram ao derube das camarilhas czarista e do Kuomitang, chama-se Revolução Socialista.

Foi a sobreexploração nas fábricas e nos campos que uniram e mobilizaram a aliança operário-camponesa para a preparação da luta armada que resultou no derrube dos opressores.

Baseado nos pensamentos de Marx e Engels aplicados às realidades destes dois países, foi possível tomar o poder e acrescentar novos capítulos á teoria revolucionária.

O Leninismo e o Maoismo são o inicio de uma nova realidade para a criação de uma nova sociedade mais justa e dirigida por quem tudo produz e outros aliados de outras camadas de classe democráticas.

Nas condições actuais de mais uma profunda crise do capitalismo, onde a exploração do homem pelo homem assume novas e maiores proporções, a Revolução em Portugal está de novo na ordem do dia.

Para a solução da crise criada, o capital que se abotoou com os rendimentos do trabalho do país, recorre à única formula que conhece, a de lançar mais exploração sobre um povo profundamente descontente e desviado de uma nova política pelos revisionistas do P"C"P e do B"E", que cavalgam e desviam as suas aspirações para as suas lutas parlamentares de poder.

Uma greve geral com 3 milhões de trabalhadores e outros tantos na rectaguarda, que deveria ter colocado a questão do poder no centro da luta, pelo facto de ser dirigida pelos revisionistas desses dois partidos e os aliados do P"S", resultou num aumento do salário minimo em 10 euros... e em novas formulas para os despedimentos, ficando as aspirações dos trabalhadores para as calendas.

A derrota das Revoluções soviética e chinesa são exactamente da responsabilidade dos revisionistas como Trotsky, Krutchov ou o Bando dos Quatro, que se aburguesaram no domínio do poder de Estado e se afastaram dos princípios marxistas de que o povo e os objectivos de defesa dos seus interesses comandam a sociedade.

j.e.simões disse...

As fórmulas que Lenin e Mao inventaram como "marxistas", de onde se destaca essa "aliança operário-camponesa" (que faria Marx dar saltos na tumba...),provaram a sua absoluta falência.

Os "timoneiros" (de água doce) dos estados burocráticos pseudo-socialistas preferiram "resolver" os problemas através do genocídio das populações, a aprenderem a ler Marx à luz da História.

Os bodes expiatórios da sanha estalinista-maoísta (Trotsky, Bando dos 4, Krutchov) patenteiam a total incapacidade dos "M"-L para fazerem uma análise materialista, bem como a subjectividade pequeno-burguesa que continua a lhes bloquear as mentes.