sábado, 6 de novembro de 2010

Demissão paira sobre Câmara de Faro?


No seguimento da assembleia municipal onde foi votado e aprovado o Plano de Reequilíbrio Financeiro, o elenco PSD da Câmara Municipal de Faro, deu esta sexta-feira uma conferência de imprensa para proceder à sua justificação.

Sem recurso a uma linguagem de acusação sobre os antecessores, Macário Correia desenrolou o novelo da falência técnica da Câmara, assumindo um valor global de dívidas na ordem dos 100 milhões de euros e para os quais a autarquia não tem capacidade de responder.

Considerando inevitável este Plano como última oportunidade de sanear uma parte inferior à metade do valor das dívidas, apresentou um rol de empresas desesperadas com créditos desde 2001.

Um ano e pouco depois da sua tomada de posse e não sendo possível ignorar a realidade para a inacção, Macário Correia abre o jogo municipal da falta de condições para governar, porque não tem dinheiro no cofre e nem convenceu para ter maioria na assembleia.

Entre o desencanto das palavras admitiu o conhecimento prévio em tempo eleitoral da dimensão do desastre que esperava o eleito mas, nada o demoveu das promessas que reconhece não ser capaz de cumprir.

Pelo trajecto da acumulação irresponsável da dívida, conhecido agora ao pormenor dos números, podemos concluir que a Câmara, mais do que financeiramente falida, arrastou longamente e até ao dia de hoje, a podridão política.

Como a lei não foi feita para alcançar as responsabilidades pessoais na gestão pública e as máquinas da propaganda partidária se esforçam em apagar os rastos, pagam os munícipes a ingenuidade e incredulidade política.

PS e PSD construíram juntos, sob os olhares dos demais, a actual situação que deixa a cidade capital do Algarve numa situação de fragilidade e exposta à degradação social e patrimonial e ao atraso nas novas políticas de desenvolvimento.

A insustentável situação da autarquia tem novos e graves desafios pela frente, como a necessidade em primeira instância do acordo do Governo, através do Ministério das Finanças e Secretaria de Estado da Administração Local e, em segunda instância, de uma maioria qualificada de 17 em 33 membros da assembleia municipal, órgão que terá a resposta final na autorização do empréstimo de 48 milhões.

Levando em conta a alienação das responsabilidades por parte dos deputados municipais do PS traduzida na abstenção do Plano de Reequilíbrio, paira no ar um cheiro a pólvora em volta da construção de um compromisso político que viabilize a solução.

A realidade é que soam as críticas de forças políticas com assento no poder mas não existem quaisquer planos alternativos, o que agrava a forma como se aborda o problema da autarquia que, mais do que financeiro é de qualidade da gestão política, que serviu linhas de interesse exógenas e desarticuladas e não as dos cidadãos.

Tendo o Município prevaricado na ultrapassagem do limite de endividamento de lei em 2008, todos os concorrentes do espectro partidário sabiam do cutelo central que exigiria uma reacção de recurso a este Plano.

Num cenário equivalente ao estado geral do país, questionado sobre se avançava para um compromisso negociado na votação e se ponderava a demissão por falta de condições, Macário Correia não imitou o discurso de vitimização de Sócrates e recatou-se na renúncia a uma resposta.

Com as dúvidas a prevalecerem nas evasivas, adivinham-se tempos muito difíceis para o concelho e a cidade capital.

Luis Alexandre

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