terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A PALESTRA (no Palácio Doglioni)


A apresentação de uma das linhas de pensamento da tese de doutoramento do professor algarvio, Virgílio Machado, teve, na sexta-feira passada, a atenção de duas dezenas de participantes na iniciativa de palestras que a CCDRA organiza no Café Doglioni.

O tema, de algum modo explosivo e inovador entre nós, versou a “Gestão de Territórios e Itinerários Turísticos no Algarve”.

O tema surpreendeu, porque abordado à luz das condições consideradas limitadoras e de excesso de concentração de poder nos agentes da organização dos destinos e que na opinião do palestrante, deveriam ser alvo de uma revolução, entrando nos circuitos novos parceiros e novas dinâmicas que têm expressão em França e foram largamente analisadas e servem de referência ao trabalho apresentado.

As agências de viagens desempenham um papel exclusivista na divulgação, captação e organização da procura, o que se torna um factor de visão curto para as crescentes dificuldades de afirmação do sector, sendo apontado a necessidade de um novo paradigma que puxe para a área novas ideias, novas iniciativas e formas de organização, sob as formas privada, pública ou mista, conseguindo cobrir mais mercados, introduzir novos motivos de interesse na procura e técnicas de classificação, orientação e divulgação do uso do território.

A discussão em Portugal nunca seguiu este caminho, havendo aqui um considerável volume de interesse em que seja aprofundada.

O Direito na área turística foi considerado difuso e insuficiente, para legitimar a introdução de novos conceitos mobilizadores para novas oportunidades e levar de vencida as resistências às mudanças.

Em minha opinião, a elevação do Turismo a uma área de pensamento superior em várias escolas, começa a dar os seus frutos e surge como uma greta de luz sobre o cruzamento de interesses do imediatismo e do oportunismo com ou sem cobertura de Lei.

A sociedade nunca tem nada a perder e passadas as surpresas, a apropriação destes novos conceitos deveria ser feita por todos os interventores e pela secretaria de Estado do Turismo, que carrega a permanente responsabilidade de absorver e dar oportunidades ao que desponta.

No Turismo, as ideias foram mais de baixo para cima e a regulamentação chegou sempre atrasada, acabando por dar cobertura de Lei aos atropelos, uma vez que a primazia foi dada ao modelo da construção indiscriminada como factor de desenvolvimento e de que resultou o estado infeccioso da actividade.

O Turismo chegou à idade madura dos 50 e o novo ciclo de juventude passa pela redefinição de uma identidade assente nos novos conceitos sociais, ambientais e das novas tecnologias, onde a investigação teria no Algarve um espaço privilegiado, pelo dimensionamento, pela requalificação histórica e patrimonial, pelo equilíbrio e diversidade dos agentes da oferta, pela qualidade profissional, pela valorização do território, pelo aproveitamento permanente das novas ideias e pela coragem em investir no derrube de muita obra de desvalorização.

Mas os perigos espreitam, onde se percebe que nada vai mudar porque para isso não há vontade nem ouvidos. Os velhos actores apenas esperam o momento.

A entrega deste professor à investigação e as ideias que nos troxe, só realça a ideia de que se deveria levantar um Observatório do Turismo no Algarve, para fazer a ligação do estudo científico à prática, com todos os benefícios que daí advêm.

Luis Alexandre

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