terça-feira, 18 de maio de 2010

JORNALISMO E CASTELO DO PODER



O conhecido jornalista Mário Crespo, esteve em Faro para promover o seu livro sobre os recentes episódios do seu postulado de convicções, a convite daquele pequeno espaço de culto na diferença, de letras e de liberdade - o “Pátio das Letras”.

Num tema de aparente facilidade de abordagem, o jornalismo, que esteve sempre ligado pelas suas páginas às grandes transformações sociais do país, foi alvo de um tu cá tu lá, onde as tropelias da expressão livre, os interesses das formas de poder e os agentes financeiros que o suportam na actualidade foram alvo de considerações, tendo como pano de fundo as trincas que enredaram a liberdade opinativa de Mário Crespo e as quedas corporativas e conspirativas de José Sócrates e do PS.

Não me sentindo autorizado a fazer uma narrativa sobre a História do jornalismo português, que ocupa pelo menos três séculos, por razões de idade, conheço e participei em modéstia nas aventuras da escrita nos últimos 38 anos, desde os fervores de apoio e de cobertura ao golpe de Estado do 25 de de Abril e decurso do período onde se contradisseram a vontade popular de operar a revolução e os interesses pintados de esquerda dos que queriam tomar as rédeas do poder.

A sucessão rápida de factos fazia as notícias correrem atrás da realidade, a luta de classes estava ao rubro e os jornais morriam e nasciam, sempre em função das opiniões e das paixões que se dividiam em ardor e com pouca democraticidade para o contraditório.

Depois da tentativa de golpe de Estado do 25 de Novembro de 75, já com a Revolução espezinhada, quando se começaram a concertar os passos dos dois lados da moeda e a comunicação aprendia a abraçar o novo ciclo de entendimentos, acompanhando os cérebros que destilavam os objectivos estratégicos da actual e venerada democracia parlamentar burguesa e que tantos interesses partidários alimenta, este novo ciclo continua uma senda de palavras escritas que procuram apenas explicar as tricas e baldrocas da vida do país, sem pôr em causa as fundamentações e a repetição invariável de quem goza e paga o sistema político.

O jornalismo que se faz em Portugal, de uma maneira geral aceita esta condição de subjugação, produz-se em ordem dos grandes interesses instalados na economia, nas finanças e na política, que precisam de veicular opiniões e vontades de modo a influenciar a sociedade.

O que é planeado nos subterrâneos e precisa de ter forma e chegar ao conhecimento geral, é escrito por mãos amigas, aconselhadas por favores, salários ou prémios. O jornalismo é de um modo geral subserviente e se partirmos para a província o descalabro afoga-nos.

O que se consignou chamar de liberdade de expressão ou jornalismo livre, é uma verdadeira farsa, ouvem-se as figuras que interessam, chamam-se os melhores propagandistas do elogio do sistema e os que não comungam deste baile de máscaras, abrem com raridade, uma ou outra linha em momentos e espaços mais desconsiderados.

Quem ousar criticar o sistema, está-se a colocar no tempo do lápis azul e tem de ser travado, por distúrbios da boa convivência social.

O jornalismo de intervenção e discórdia só tem razões para aumentar o tom de voz.


Luis Alexandre

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