quinta-feira, 27 de maio de 2010

A FALTA DE LIDERANÇA AO JANTAR


A única ponta dos segredos bem guardados e tratados no jantar no Governo Civil é uma frase atribuída ao deputado “algarvio”, João Soares, que terá afirmado que o problema do Algarve é: “falta de liderança”.

Quem lançou a público a frase, acrescentou a perplexidade dos convivas pela sua saída antes do fim do repasto, deixando no ar se as razões se prendem com o menu alimentar ou com o político.

Tratando-se de uma afirmação forte, proferida como convidado e tendo como anfitriã a representante do Governo na região, arrasadora da substância política dos comensais, todos gente que se tem em boa conta, seriam naturais às más disposições ou até indigestões.

O primeiro aspecto analítico a deter na putativa contundência, é a de que, analisado de fora, revela atenção de leitura da situação do Algarve e acertou em cheio, para desconforto das sumidades.

O contrário de não haver liderança é cada um puxar para seu lado, o que, desmontado no seu significado, representa que o Algarve foi gerido, sob todos os aspectos, por capelinhas partidárias e interesses diversos e dispersos, que desaguaram na imagem cansada que este apresenta nos mercados turísticos, como não concertou estratégias de diversificação da economia.

Os responsáveis por esta situação, logicamente, não gostaram que lhes apontassem o dedo mas, a realidade está aí, nua e cruel, para lhes avivar os neurónios.

Soares, num assomo de lógica, quis dizer que se ele foi número um pela região, a culpa é dos dirigentes regionais, o mesmo valendo para os outros partidos, cujas direcções nacionais querem corpos compactos, evitar as dissonâncias, como se o todo não fosse composta das partes.

O objectivo final desta estratégia é matar as vontades regionais e alguns dos nossos dirigentes até vêm aqui um refúgio para a sua incompetência.

Enquanto os ventos corriam de feição e as receitas turísticas não acusavam os efeitos da degradação estrutural, PIN e outras, os pastores nunca foram postos em causa pelo rebanho, nem o que lhes era vendido como desenvolvimento.

As receitas locais, o emprego e os proveitos dos jogos de poder, conviveram bem com o espezinhamento centralista que levava a parte de leão, devolvendo as migalhas do PIDDAC a troco de alguns lugares cimeiros e mordomias em instituições regionais.

Com a casa em mau estado num país delapidado, o Algarve não tem condições por si próprio de sair do encalhe e mais 2 ou 3 anos sem investimento público, fazem-nos perder ainda mais competitividade.

Os dirigentes regionais, acreditando que somos todos parolos e porque nunca lhes deram os cargos que julgavam merecer, mudam de tónica e refugiam-se na regionalização, como tábua de salvação… para eles. Não admira que muitos cidadãos do Algarve alimentem desconfianças, não na necessidade do processo, mas nas moscas.

Não sabemos se a verdade estragou de todo o jantar no Governo Civil mas, os algarvios sabem que falta comida nas mesas de quase 40.000 desempregados e famílias e que o futuro reserva-nos muitas preocupações, que estes líderes não têm capacidade de resolver.


Luis Alexandre

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