quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Quem abortou a greve geral?



A CGTP, supondo controlar o movimento alargado do trabalho, chamou os trabalhadores para a manifestação de rua a 29 de Maio e surpreendeu-se com a resposta destes. O sentimento de revolta latente, ultrapassou a noção da realidade desta central sindical, controlada e usada pelas estratégias do PCP e satélites.

À volta de 300 mil trabalhadores saíram à rua para protestar contra as políticas do Governo PS, de novo mancomunado nos bastidores com o PSD, numa demonstração de vigor e repúdio pelo estado de podridão social e financeira em que o país foi enterrado, recaindo sobre o trabalho e as pequenas e médias empresas, o aumento da exploração para pagamento dos custos.

A CGTP, que sempre se escondeu em linguagem próxima das aspirações dos trabalhadores, tem um consulado de lacrimejos entorpecidos pelas negociatas na mesa a que a lei lhe dá direito e cujos resultados são visíveis na degradação geral das condições de trabalho, regalias sociais e baixos salários.

A degenerescência do movimento sindical e a lassidão social generalizada, onde o protesto colectivo foi quase assassinado e as associações de bairro e empresa foram reduzidas a cinzas ou ao servilismo, tem exactamente explicação no aburguesamento das ideias dos seus dirigentes e adesão às regalias que os detentores do poder sempre têm para oferecer aos seus lídimos colaboradores.

Confrontados com o crescendo da insatisfação popular, com o avassalador número de desempregados e o descontentamento sobre redução de salários e reformas, aumentos de impostos, cortes na saúde e ensino, encarecimento do custo de vida e perseguição na vida pública, a CGTP, não podia perder a face e a cabeça da revolta, acabando por chamar as pessoas para a rua, encenando a necessidade de uma nova e mais afirmativa etapa – a greve geral -, de que nunca mais se ouviu falar.

Os lancinantes apelos do Governo em completa desorientação pela falta de liquidez do Estado e a chantagem externa dos credores, bem como os do grande patronato, que vêem no momento a oportunidade de serem adoptadas mais medidas em seu favor, levaram a CGTP ao acto patriótico da estratégia do silêncio, balbuciando apenas a quente que os números da rua mereciam ser reflectidos.

De facto, os números da rua traduziram bem o grau de descontentamento popular que, para além da surpresa dos organizadores terão assustado o Governo e quejandos. Foi a maior manifestação dos últimos 20 e poucos anos, mostrando que a linha avançada do povo não é mentecapta e tem capacidade de reagir às políticas contrárias ao que lhe é prometido.

A CGTP, na sua estratégia de suporte de uma falsa esquerda, avaliará que o povo é bruto e não pensa, o que lhe custará no futuro ser ultrapassada.

A força do 29 de Maio não pode ser desbaratada e, quando a classe política, depois dos bronzeados repastos de férias se preparam para lançar as teorias com que pensam exercer ou chegar ao poder, uniformizados nos propósitos do reforço do PEC para 2011 e seguintes, a CGTP e o seu papel histórico serão postos à prova, porque quando voltar a pedir aos trabalhadores que se manifestem, vai-se reforçando a ideia de que estes lhe perguntem a favor do quê e de quem…

Desde sempre que as transformações sociais se fizeram de resistência, direcção, organização e vítimas, em resposta à opressão dos poderes instituídos.

A História desenganará aqueles que pensam que os regimes opressores, mesmo mascarados, são eternos…


Luis Alexandre

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