Os três novos pastorinhos
(a propósito da benção de 78.000 milhões de ajuda se transformarem em 111.000 de sangue e suor)
Em tempo de trovoadas de Maio, um país de oito séculos, precisa de novos milagres para o salvar da escuridão. Depois de vencida a longa noite fascista, vemo-nos a braços com a longa noite das dívidas da “democracia”. A primeira acumulava o fruto do roubo e a segunda desbaratou-o. Não ficou nem pão nem rosas.
Os fenómenos meteorológicos que marcam a História transcendental de Maio, deram lugar a outros de natureza política, em que as aparições são terríficas e têm formas bem reais. O aparecimento de uma “troika” sem adornos celestiais e por chamamento, cujas virtudes são conhecidas de aparições anteriores, não deixam muitas convicções de adoração. Excepto para os três pastorinhos da era moderna, que assinaram o pacto do milagre em termos certos.
A negociada redenção de Maio, que salva os pastorinhos e os rebanhos privados, vem recheado de espinhos sobre todos aqueles que deveriam acreditar nos actos de fé que estes veneram e cuja missão tem de ser cumprida religiosamente.
Os três pastorinhos, muito experimentados no pastoreio e até em trovoadas e outras condições de meteorologia pesada, têm o seu futuro de convicções protegido pelos poderosos, que numa atitude bem terrena os salvam e recomendam para as futuras acções espirituais, digamos até miraculosas, de se tornarem a luz que vai alumiar o sofrimento regenerador dos ímpios que estão na linha de pagamento das culpas dos outros.
Os três pastorinhos da era moderna, que pecam e escondem a mão, entendem que a sua contrição advém do doce castigo de dividirem o poder e levar por diante a recondução do rebanho aos velhos caminhos pedregosos e de expiação, que os libertam da luxúria dos bens terrenos.
A luxúria e o pecado não são para os humildes pagadores, ficando os prazeres da carne para os pregadores e as suas seitas. Esses sempre estiveram mais perto do céu.
Maio vai continuar um tempo abençoado sem explicações aceitáveis para os comuns mortais e a ser usado para as boas novas transcendentais, com os três pastorinhos empenhados em questões mais terrenas, na salvação de uma pátria e de um povo acusado de cair em tentação mesmo que carregue a sua secular miséria.
O que seria da pátria sem o empenho dos três pastorinhos em causas tão diferentes e tão antagónicas, de fazerem o mal e o repararem, á custa dos muitos anjinhos que não pensam pelas suas cabeças.
Luis Alexandre
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