quarta-feira, 14 de julho de 2010

O desencanto do sonho europeu


O povo português, nunca foi tão humilhado como nos últimos tempos. Do sonho europeu ao pesadelo da subserviência, bastou menos tempo que uma geração.

Um país conduzido sem rumo, espartilhado por simulacros de objectivos para cada uma das suas regiões e a mando de uma UE que lhe ditou as regras, agora por demais evidente, por via da insolvência e das imposições de quem injecta a liquidez corrente, tem as mãos estendidas e as ideias atadas, não ousando questionar, pensar ou atrever-se a avançar no debate nacional.

O Governo e os partidos que o sustentam, são meros gestores de insolvência, na medida em que a estrutura política da Comunidade ainda não foi tão longe, na nomeação de outros da sua confiança.

A absorção estrutural, económica e financeira atingiu níveis de satisfação do centralismo burocrata de Bruxelas, como meros executores das estratégias expansionistas do eixo franco-alemão, mas não se repercutiu em perda de identidade histórica e cultural, como principais fontes de alimentação do orgulho dos povos. Construíram uma malha europeia de aproveitamentos a muitos níveis mas, não existe e nem existirá uma cultura europeia, um pensamento europeu e um povo europeu.

As complexas imagens do tabuleiro de xadrez, decorrentes do envolvimento na crise e naquilo que o estatuto de unidade exigiria para lhe responder, mostraram como uma direcção europeia não passa de um órgão hipotecado e sem capacidades de decisão. As linhas telefónicas de prioridade continuam, equitativa e incontornavelmente, as de Bona e Paris.

Os visionários a todos os níveis de interesses, que se foram levantando nos diferentes países e colocaram pedra sobre pedra no edifício europeu, que avalizaram a compra das economias dos países ricos sobre os pobres, com os seus excedentes para investimento, meios de endividamento e jogos de elevados riscos financeiros com os dinheiros dos aforradores e completa displicência sobre as falcatruas orçamentais dos países membros, dando forma à colonização moderna, depois de recorrerem às promessas de um projecto de nivelamento, o famoso projecto Social Europeu, estão reduzidos à condição de escravos das teias e mentiras que criaram e, trespassando uma imagem de reorientação, não sabem como sair delas.

O modelo europeu desde sempre que assentou em formas modernas de expansão de mercados e foi evoluindo em cuidados e exigências sobre os novos membros, procurando pensadamente a exploração dos factores contributivos das economias de cada Estado e a redução da sua autonomia, em proveito, hoje indiscutível, das potências que nunca deixaram de mandar e tratar os outros como elementos periféricos.

O nível de destruição da economia portuguesa e a sua super-dependência dos capitais estrangeiros e da moeda única, levam os políticos da praça, apenas herdeiros de compromissos, a correrem ao primeiro trrim do telefone europeu, para não ofenderem. O tal projecto de país, enquadrado num plano de identidade e de voto equiparado, não passou de premissa no grande leque de ilusões.

O que tem de ser dito, com todas as letras, é que o projecto europeu em que fomos enredados, foi e é uma verdadeira farsa nos seus propósitos, criou enormes franjas de deserdados e endividados nos quatro cantos do espaço comunitário, propiciando os factores de descrédito e revolta.

As novas promessas de reformas que tardam e têm a pretensão do controlo sobre o sistema financeiro, não passam de atoardas inofensivas, que a insaciável voragem capitalista do projecto europeu, engolirá na próxima esquina, à semelhança da velha fábula africana do jacaré e do mosquito, em que o instinto fatal é mais forte que o favor.

A Europa actual, reconheçam ou não, aprofundou as divisões sociais e as consequências não deixarão de se exprimir.


Luis Alexandre

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