sexta-feira, 7 de julho de 2017

Texto publicado na edição de ontem no jornal "Barlavento":



Os incidentes de Albufeira prenunciam uma situação irreparável?

Já foi o tempo em que os turistas se sentiam em casa. Para se perceber os graves incidentes em Albufeira, é preciso reflectir sobre as políticas liberais seguidas por todos os executivos, apoiadas na indiferença de uma maioria esmagadora da população, numa grande Torre de Babel, que não tem raízes e cultura local. Se não há massa crítica, o campo fica limpo para o que se econde e nem se sonha...

O crescimento turístico e urbanístico mal planeado (sempre à procura de receitas de IMI e IMT) e o correspondente crescimento demográfico para solver as necessidades de oferta de serviços, trouxeram novos problemas de segurança a uma cidade que vive intensamente metade do ano e dorme na outra metade quase fantasma. Uma massa enorme de gente enfrenta a sazonalidade e as dificuldades financeiras, incluindo pequenos empresários. O Inverno traz os roubos e o turismo de risco aumenta no Verão, potenciados pelos factores alcool e as drogas, apoiados na agressividade de agentes de terreno que operam no vazio ou ineficácia da lei e do controlo policial.

Os incidentes recentes, invariavelmente na Av. Sá Carneiro (vulgo rua da Oura) onde as balas de borracha são o ingrediente novidade, os piores possívelmente poderão espreitar a entrada, não são uma ilha e as vontades de os resolver diluem-se em declarações vagas de que “a Câmara não tem que ver com os incidentes mas vamos reunir com as autoridades”. Um presidente de Câmara não pode ser tão vago, quando a sorte ainda não trouxe perdas físicas por movimentos descontrolados...

Incidentes sempre houve, mas a eventual conotação com gangs organizados a partir de fora obriga a níveis superiores de atenção e organização das respostas. Um governo camarário tem de se antecipar. A questão dos reforços policiais para o controlo do Verão, pelos vistos não se pode cingir só a efectivos, mas também a outras funções de gestão dos visitantes, se eles vêm organizados para desacatos e porquê.

Albufeira é uma cidade que vive exclusivamente do turismo, agora massificado e democratizado a um baixo nível... emprega dezenas de milhares que vendem a força de trabalho sem outros recursos ou capacidades mas, as autoridades locais insistem no seu velho modelo de muita conversa e pouco serviço. Habitação social é uma miragem, a estrutura educacional deficiente, o custo de vida é muito alto, a oferta de serviços é modesta a quase todos os níveis, criando desconforto estrutural e propiciando mentalidades de reacção que podem ter direcções permissivas e conflituosas...

Se juntarmos ao terreno movediço local as ambições de organizações ou indivíduos que não trocam a lei pelos lucros, outros de fora podem ser aliados destes factores de desorganização e explorá-los com as imagens que agora correm mundo sobre o que nasceu uma vila pacata de pescadores que encantou a Europa e uma parte do mundo. Neste momento, perante factos graves, e discordo de todos que lhe tirem a carga explosiva, a imagem que damos é de um pequeno farwest turístico, um modelo desestruturado onde parece que não há mão...


Luís Alexandre
Presidente da ACOSAL

   

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