quinta-feira, 21 de maio de 2015

Albufeira: a cidade das gaiolas!

Texto publicado na edição de hoje do jornal "Barlavento"




Albufeira: a cidade das gaiolas!

Quando há nove anos o executivo e oposição desbarataram 76 milhões de euros em cosmética de rua através do Programa Polis/Câmara, sob o pretexto de ordenar, criar amplos espaços de fruição para os habitantes e visitantes e abrir os caminhos para o mar, não imaginávamos o descalabro que o neoliberalismo e a sua natural estupidez fossem capazes de produzir apenas ao fim de poucos anos.

Com apenas dois Largos e duas Avenidas amplas no contexto de uma vila outrora aconchegada e montada em colinas, que fazia as delícias dos visitantes e era o orgulho dos filhos da terra, hoje, os espaços e os equipamentos públicos foram engolidos pelo oportunismo de quem pediu e quem aprovou a sobreocupação com gaiolas de telhados, portas e janelas e fixos de vários matizes, curiosamente numa terra que só funciona pela praia e o sol e fecha para a sazonalidade cinco ou seis meses do ano...

O que deveria constituir uma mais-valia de arejamento da vista e retempero das forças, dando prioridade às pessoas na sua livre circulação e podendo apreciar os valores histórico-culturais de uma velha vila de pescadores, arrumada e onde se podia ouvir o mar em qualquer canto, como principais factores de interesse em voltar, os executivos camarários foram apostando no derrube dos valores patrimoniais e agora apostam nas imagens metalúrgicas que se erguem em plena via pública, misturadas em cocktail com as marcas alcoólicas que fazem a cultura e o enriquecimento rápido dos tempos modernos, onde se junta o consumo de ruídos e drogas... e se mata o princípio do desenvolvimento assente no ambiente familiar dos visitantes.

Ganha a compactação dos visitantes pela perda do interesse na amenidade do Inverno em que quase tudo fecha, juntou-se o interesse em criar as gaiolas do estacionamento, estes privados e pagos por 24 horas o ano inteiro, sem contrapartidas de outros parques livres em eleições prometidos, e sem rebuço para locais, trabalhadores e visitantes, todos metidos no mesmo saco, para que o neoliberalismo sirva as clientelas e a Câmara conte apenas com os trocados, mesmo que estes nasçam sobre alienação de espaços e dinheiros públicos...

E como não há duas sem três, agora por razões eleitorais preparadas meticulosamente antes da última eleição, foram estendidos nos tapetes pedonais das avenidas e ruas uma nova leva de vendedores ambulantes, que perfazem quase 90 gaiolas e 90 formas estéticas, num espectáculo nunca visto em qualquer cidade turística civilizada... fazendo a maior parte concorrência frontal de produtos que levou uma vereadora a mudar por queixa individual uma árvore mal plantada, sem que admita ou até perceba... que é a floresta que está doente...

Com o Sol a seguir o seu curso e os tradicionais clientes a seguir o mesmo, o neoliberalismo das governanças criaram o atropelo da sazonalidade pela descaracterização e, como a criança a quem se esconde o brinquedo, também dizem... não há... numa cegueira que não atropela as decisões sobre receitas camarárias com um vasto leque de taxas ao dispôr, mas que, sobretudo, revela que governam para um mandato de cada vez e não para um futuro sustentado de uma cidade e um concelho, cuja imagem e organização vendem mais que as palavras...

Luís Alexandre
Presidente da ACOSAL







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